Balanço da flexibilidade curricular: alunos estão mais motivados, mas a avaliação ainda é um problema

Envolve 225 escolas. Hoje é dia de fazer o balanço ao que estão elas a fazer com a experiência pedagógica que flexibiliza currículos e muda métodos de ensino para quase 47 mil alunos.

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Nelson Garrido

Alunos mais motivados, professores mais atentos às necessidades destes e resistências, sobretudo no que respeita ao modo de avaliar os estudantes, o que passou a ser um trabalho diferente do habitual. Estes foram alguns traços apontados nesta sexta-feira por directores e investigadores sobre o que tem sobressaído nestes primeiros seis meses de aplicação do projecto-piloto de flexibilidade curricular.

À tarde, chegará a vez da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgar a sua avaliação sobre este projecto, a que aderiram 225 escolas ou agrupamentos, abrangendo 46.920 alunos e 6932 professores, segundo dados divulgados pelo coordenador nacional da experiência pedagógica da flexibilidade curricular, José Pedroso.

O investigador da Universidade Católica, Joaquim Azevedo, é um dos consultores desta experiência. “Nas visitas que tenho feito às escolas, os alunos têm falado de aprendizagens mais ricas, de um conhecimento mais profundo. Estão mais motivados e isso é fundamental”, disse, para frisar de seguida que “a motivação para o trabalho escolar é uma missão da escola”.

A directora do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto, Luísa Pereira, recolheu frases dos professores envolvidos no projecto, que ali está a ser aplicado nas turmas do 1.º, 5.º, 7.º e 10.º anos. Alguns exemplos: “ Há uma apropriação das aprendizagens essenciais pelos alunos”; “a aprendizagem é mais significativa”.  E o que fazem na prática? Também só alguns exemplos: juntar o 1.º e 10.º ano num trabalho de recolha e análise de rótulos, do qual sairá um filme; no 3.º ciclo do básico estudar a densidade envolvendo os professores de Matemática e de Físico-Química, seja em conjunto numa mesma sala ou em aulas sequenciais, e com base num desafio — no caso perceber porque é que os balões de São João sobem e porque foram proibidos este ano.

Luísa Pereira explica que as aulas sequenciais têm sido frequentemente utilizadas com este projecto. Isto significa, explica, que há um mesmo sumário para as várias disciplinas envolvidas, cabendo a cada professor dar o contributo da sua área para a compreensão de um mesmo fenómeno. “No ensino secundário temos sentido dificuldade neste projecto por causa da pressão dos exames nacionais. É menos polémico noutros ciclos. Estamos face a uma mudança de paradigma muito grande. É um caminho que vamos ter de fazer devagar”, comentou.

Desarrumar as salas

Marco Gomes, da Direcção Regional de Educação da Madeira, escolhe também como principal desafio do projecto o modo como se articulará a avaliação com estas novas práticas de ensino. “É a parte mais difícil e onde existe mais resistências”, constata.

No Agrupamento de Escolas de Azeitão já têm conseguido “diversificar instrumentos de avaliação”, substituindo nalguns casos as notas dos trabalhos por uma exposição de avaliação do desempenho dos alunos, conta o seu responsável Fernando Ribeiro. “Já estamos a desarrumar as nossas salas de aulas”, conta também, lembrando que a disposição tradicional contraria o que mais se pretende neste projecto, o envolvimento dos alunos.

Marco Gomes, da Madeira, traz também este balanço das 10 escolas onde o projecto está a ser aplicado: “Os professores estão mais atentos, mais críticos e mais preocupados em que as aprendizagens sejam verdadeiramente significativas para os estudantes.”

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