Mais conhecido bilionário saudita finalmente libertado do Ritz-Carlton

O empresário Alwaleed bin Talal, com investimentos no Citibank e na Apple, garantiu à Reuters que apenas estava detido para desfazer "mal-entendidos".

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Alwaleed sentado à secretária na sua prisão de luxo Katie Paul/Reuters
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Um pormenor da sala de estar da suite do Ritz-Carlton Katie Paul/Reuters
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Outra vista da suite-cela onde o bilionário esteve quase dois meses Katie Paul/Reuters

Foi o nome que mais deu que falar na purga de dimensões épicas iniciada em Novembro pelo príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman (conhecido como MBS), que deteve dezenas de membros da família real e empresários para obter dinheiro para os cofres do reino. O rosto do mundo de negócios saudita para o resto do mundo, o milionário príncipe Alwaleed bin Talal, foi um dos que passou mais tempo no luxuoso Ritz-Carlton de Riad; este sábado foi finalmente libertado.

“Chegou a casa”, confirmou à Reuters um dos familiares de Alwaleed. A agência tinha conseguido uma entrevista com o príncipe horas antes da libertação – Alwaleed adiantava que estava prestes a sair e com o seu nome limpo. “Não há acusações. Há apenas algumas discussões entre mim e o Governo”, disse. “Eu disse-lhes que fico o tempo que quiserem porque quero que a verdade se saiba sobre todos os meus negócios e tudo o que me rodeia”, afirmou o investidor em empresas como o Citibank, a Apple, o Twitter ou hotéis como o George V em Paris e o Plaza de Nova Iorque.

Pelo que se foi percebendo ao longo das últimas semanas, os milionários detidos nas suites douradas do Ritz-Carlton estavam a ser obrigados a negociar a entrega ao Governo de muito dinheiro e a jurar lealdade a MBS em troca de liberdade. Provavelmente, a maioria poderia ser acusada de corrupção em tribunal – as alegações contra Alwaleed incluíam lavagem de dinheiro, subornos a responsáveis e extorsão. A verdade é esta era a forma saudita de fazer negócios, algo que MBS avisou querer mudar.

“Há um mal-entendido e está a ser clarificado. Por isso, gostaria de aqui ficar até isto estar completamente terminado e poder sair para continuar com a minha vida”, disse Alwaleed à Reuters, acrescentando que contava manter-se no controlo da sua empresa de investimento global, a Kingdom Holding e tencionava continuar no país onde estão os seus “filhos e netos” e os seus “bens”.

Depois de vários príncipes terem aceitado entregar milhões de riais em acções, outros terem visto os seus bens “livres de credores” expropriados, Riad fez saber que pretendia reunir pelo menos 100 mil milhões de dólares (80 mil milhões de euros) nesta operação – um valor que faz muita falta a um país habituado a viver apenas graças aos lucros de um bem que tem perdido valor, o petróleo.

Já em relação a Alwaleed, conhecido na Arábia Saudita pelas suas posições reformistas – sempre defendeu o direito das mulheres a conduzir, por exemplo, uma proibição que MBS conseguiu que o pai levantasse –, dizia-se (a Al-Jazira e alguma imprensa árabe) que já teria sido “convidado” a ajudar a estabilizar o orçamento do Estado (depauperado ainda pelo esforço de guerra no Iémen, um conflito que não tem corrido nada bem aos sauditas). Ao recusar, foi parar ao mesmo lugar que tantos outros.

Alwaleed não tinha queixas sobre as condições de detenção. Aliás, explicou que decidiu dar a entrevista para desmentir notícias que diziam estar a ser torturado ou sujeito a maus-tratos. “Não tenho nada a esconder. Estou tão confortável, tão relaxado. Faço aqui a barba, como em casa. O meu barbeiro vem cá. Francamente, estou em casa”, afirmou, mostrando à jornalista a sala de jantar e de estar, a cozinha com todas as suas refeições vegetarianas preferidas, o escritório em tons de dourado, a caneca com uma imagem de si próprio ou os ténis pousados a um canto que disse usar para exercícios regulares.

Com negócios estimados pela revista Forbes em 17 mil milhões de dólares (quase 14 mil milhões de euros), a sua libertação, escreve a Reuters, deverá “reassegurar os investidores no seu império global, assim como os investidores no conjunto da economia saudita”. Mas não estão excluídas novas vagas de detenções para obter ainda mais dinheiro junto de milionários susceptíveis de serem acusados de corrupção.

MBS, de 32 anos, ainda não é rei mas é o homem que mais poder alguma vez acumulou no país, estando à frente da Defesa, definindo a Política Externa e controlando directamente a empresa estatal que gere a exportação de petróleo e o conjunto da economia (com o seu plano para diversificar as fontes de rendimento até 2030).

“Temos uma nova liderança na Arábia Saudita, e eles só querem confirmar tudo e esclarecer quaisquer dúvidas. E eu disse ‘Muito bem, parece-me correcto, nenhum problema, façam o que tiverem a fazer’”, disse Alwaleed, com a Reuters a descrevê-lo como mais magro e grisalho do que se apresentara na última vez que fora visto em público, numa entrevista em Outubro. E apesar das visitas do barbeiro, também tinha deixado crescer barba.

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