Aos nossos amores

Pressente-se no filme uma “irmandade” entre Sandrine Bonnaire e Marianne Faithfull. Mas não se vê.

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O retrato, mesmo que um pouco triste, sai enxuto e sem amargura
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Sandrine Bonnaire encontra Marianne Faithfull, e se são mulheres de idades e contextos bastante diferentes não é difícil ensaiar o encontro de um laço “invisível” entre elas, porventura o ponto determinante para que a francesa tenha ido ao encontro da inglesa: como Faithfull, que ainda adolescente se tornou emblema e pin up da swinging London, também Bonnaire foi projectada muito jovem para os cabeçalhos do cinema francês, por via do Aos Nossos Amores de Maurice Pialat.

Pressente-se isto no filme, esta “irmandade” (e fala-se muito dos célebres amores de Marianne), mas não se vê necessariamente: Faithfull adopta uma estrutura e um modo de funcionamento bastante convencionais, entre os depoimentos (expressos ou recuperados de intervenções antigas da cantora), as imagens de arquivo e os interlúdios de “filme-concerto”.

É bastante competente e profusamente ilustrado, mas a trabalhar numa modéstia formal que nunca se ultrapassa a si própria. Vale pelo poder evocativo das palavras e da presença de Faithfull, e pela forma como elas ultrapassam um percurso meramente pessoal e se fundem com um relato da “ascensão e queda” dos “sixties”, a breve euforia seguida de uma ressaca múltipla e monumental — de que o rosto e a voz de Marianne guardam inúmeras marcas, como se também disso, da ressaca da swinging London, ela se tivesse tornado “emblema e pin up’”. O retrato (e até o “auto-retrato”, no que toca ao modo como Marianne fala de si e da sua história), mesmo que um pouco triste, sai enxuto e sem amargura. Não há como dizer-lhe que não, ainda que seja daqueles casos em que se vai ao cinema pela personagem, mais do que pelo filme.

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