Santana jogou ao ataque, Rio atacou no fim

Durante dez minutos, o debate que opôs Rui Rio e Pedro Santana Lopes parecia um combate de boxe. Santana dominou, mas no último minuto, quando o adversário já não podia responder, Rio também aplicou um golpe duro

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Miguel Manso
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Depois de uma campanha morna, o primeiro debate entre os dois candidatos à liderança do PSD teve momentos de um combate de boxe. Santana Lopes jogou ao ataque e desafiou Rui Rio a explicar as “trapalhadas” de que o acusou repetidamente, insinuou a deslealdade do adversário que foi seu vice-presidente no PSD e insistiu nas críticas que Rio e os seus apoiantes “maravilha” fizeram a Passos Coelho. Rio só conseguiu ser um pouco mais incisivo no final, no seu minuto e meio de tempo, quando se dirigia aos militantes: a experiência de governo de Santana Lopes “correu mal, muito mal”. Nas questões programáticas, os candidatos estiveram praticamente de acordo.

O tratamento por ‘tu’ deu à troca de palavras entre os dois sociais-democratas um tom ainda mais azedo. Depois da quase harmonia no tema do financiamento partidário — que domina a actualidade — Santana Lopes, desafiado pelo moderador a dizer o que o separa do adversário, desafiou Rio: “Que trapalhadas existiram, quando?”. A referência é o governo de 2004 que o então Presidente da República fez cair. Santana lembrou que Rio foi seu vice-presidente no partido (quando era líder e primeiro-ministro) e que nunca lhe disse nada “publicamente nem em privado”.

O ex-autarca do Porto tentou explicar que até apoiou a solução de ser Santana o sucessor de Durão Barroso, mas que as coisas se degradaram, tendo acabado mesmo assim por não sair. Rio usou a argumentação de que a escolha nestas directas é para primeiro-ministro e que a “experiência de Santana Lopes como primeiro-ministro correu manifestamente mal. Se for ele o candidato todas essas fragilidades voltam ao de cima”, disse, acrescentando que Jorge Sampaio “acabou por ter razão porque o PS teve a maior maioria absoluta”.

O ex-primeiro-ministro atacou fortemente. “Passas o tempo a dizer mal de mim. Na moção em todo o lado (…) Não tens praticamente uma palavra de crítica da frente de esquerda”. E citou uma carta assinada em conjunto por Rui Rio e António Costa (foto em baixo), então presidentes das câmaras do Porto e de Lisboa, respectivamente. Rio explicou que era uma carta no âmbito de um “relacionamento institucional” e que pedia aos respectivos líderes partidários uma alteração a uma lei. “Dupond e Dupont não somos nós os dois, és tu e o doutor António Costa”, atirou Santana.

Nesta fase, com Rio à defesa, Santana voltou a insistir que o ex-autarca do Porto foi para a Associação 25 de Abril criticar o governo de Passos Coelho e que se aliou a figuras como Pacheco Pereira, que faz parte de um grupo, como Morais Sarmento, e que depois “desaparecem”. O ex-autarca justificou a sua intervenção na Associação 25 de Abril: “Fui falar sobre o regime e não tinha nada a ver com a governação”. A participação de Pacheco Pereira numa iniciativa de esquerda na Aula Magna levou Rio a desmarcar-se — “não tenho culpa que ele tivesse lá ido” — e acabou por acusar Santana Lopes de querer fundar um partido, o partido liberal social. Era “um movimento”, contrapôs o ex-primeiro-ministro, lembrando que afinal o seu resultado nas urnas em 2005, depois do governo dissolvido, foi de 28,3% pouco menos que os 29,1% conseguidos em 2009 por Ferreira leite, a líder e actual apoiante de Rio, o “grupo maravilha”. Rio não se ficou: “Essa solução tirou a maioria absoluta a Sócrates e tu deste a maioria absoluta ao PS”.

As alianças com o PS e o CDS viriam a lume já no final do debate. Santana reiterou a recusa em coligações com os socialistas. Já Rui Rio admitiu uma aliança de Governo em casos excepcionais. “Pode haver situações extraordinárias em que não se possa dizer ‘jamais’ como dizia o ministro Mário Lino [do PS]”, afirmou, apontando um exemplo relacionado com uma imposição da troika aos partidos: “Imagine que em 2011 [a troika dizia] assinam aqui os três — CDS, PSD e PS — o acordozinho. E agora vão para lá [para o Governo]. Se eu estivesse amarrado lá atrás a dizer não e não, como é que fazia?” Relativamente ao CDS, Rio não excluiu uma coligação pré-eleitoral mas considerou “pouco provável”.

O debate arrancou pela questão do financiamento partidário. Os dois concordaram na falta de transparência do processo legislativo. Santana Lopes mostrou-se contra a ideia de os partidos terem um regime fiscal mais favorável. Já Rui Rio avançou com a proposta de um orçamento dos partidos “com base zero”.

Na área da economia, os dois candidatos também registaram convergência. Crescimento económico é preciso, sim, acarinhar a poupança também. E é preciso atrair investimento das empresas e para isso baixar o IRC. No papel do Estado também não se evidenciaram clivagens. Rio defendeu a “descentralização e a desconcentração de serviços”, Santana lembrou que deslocalizou alguns quando era primeiro-ministro. Falou do Estado “abusador” e que falhou na protecção civil ou que “rebenta pelas costuras na saúde”. O tema da regionalização esteve ausente.

Relativamente ao papel da justiça, Rio e Santana concordaram na ideia de que não faz sentido julgamentos na praça pública. Mas o ex-autarca do Porto foi muito mais duro no balanço da Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, enquanto Santana elogiou a “coragem” do Ministério Público para enfrentar os “poderosos”, seja “quem forem”.

No remate final, numa espécie de mini-tempo de antena, Rio e Santana transpiraram estilos diferentes. Rio apelou à razão — “escolham quem tem melhores condições para ser primeiro-ministro” — Santana ao coração: “Vamos novamente encher a Alameda”.

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