Este debate foi na RTP-Memória?

Para quem tanto fala de Sá Carneiro e da sua mais famosa citação, Santana Lopes e Rui Rio fizeram exactamente o contrário.

Já Santana dizia para Marcelo, quando o desafiou em 1996: estava escrito nas estrelas que ia ser assim. O primeiro debate entre Santana Lopes e Rui Rio foi um debate pessoal. Foi um ajuste de contas sobre o passado de cada um deles. Foi quase como se, por engano, tivéssemos ligado a televisão não na RTP, mas na RTP-Memória (levando-nos para uma noite de má memória). 

Rui Rio falou das “trapalhadas” do Governo de Santana, lá atrás em 2004, mas não se preparou para lembrar algumas (e era fácil, porque eram quase diárias). E lembrou-se da ideia de Santana de criar um outro partido, mas enganou-se na data (sendo que até era divertido lembrar que foi em 1997, quando Marcelo era líder do partido).

Já Santana Lopes, usou o ex-vice de Rui Rio na Câmara do Porto (em quem, nas últimas presidenciais, votaram 2% dos eleitores), para lembrar que ele já tinha sido acusado de ser cúmplice de corruptos. Lembrou as conferências de Rio criticando o estado da democracia em pleno Governo Passos. Mas sobretudo usou os apoiantes do seu adversário (Pacheco Pereira, Ferreira Leite, António Capucho), como quem diz aos militantes “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”).

Se a ideia era ganhar o combate nesta guerra, Rui Rio perdeu a primeira batalha. Não porque Santana Lopes é mestre na arte do contraditório, não apenas porque não levou os recortes tão preparados. Mas sobretudo porque não quis arriscar ir para o campo onde teria mais a ganhar: na consistência das ideias. Na franqueza das propostas. No assumir de uma alternativa. Sem ideias, Santana levou-o para o seu ringue. E, claro, ganhou o primeiro combate. 

O problema é que, do resto debate, não sobrou nada. Rui Rio e Santana Lopes concordam que é preciso baixar impostos, que é preciso descentralizar, que é preciso ir baixando o défice. Os dois criticam Costa e a maioria de esquerda. Um rejeita já o Bloco Central, o outro só não diz “jamais”. 

O que resulta daqui, é que pouco ou nada muda — a não ser um triste espectáculo de acusações mútuas. Para quem tanto fala de Sá Carneiro e da sua mais famosa citação (“primeiro o país, depois o partido”), os dois candidatos fizeram exactamente o contrário: decidiram falar apenas para os militantes do PSD, esquecendo-se da imagem que ficaria para o partido. Foi por isto que o primeiro debate entre os candidatos à liderança do PSD teve um vencedor, que assistiu a tudo tranquilo: António Costa.

* N.D. Este texto foi alterado, corrigindo a votação nas presidenciais de Paulo Morais.

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