Sul-africanos esperam luta anticorrupção com novo líder do ANC

Após sucessivos adiamentos e um enorme suspense, partido sul-africano anuncia novo líder: Cyril Ramaphosa. Ex-mulher de Zuma é derrotada.

Cyril Ramaphosa cumprimenta um delegado do partido
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Cyril Ramaphosa cumprimenta um delegado do partido SIPHIWE SIBEKO/Reuters
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O vencedor emociou-se ao ouvir o resultado SIPHIWE SIBEKO/Reuters

A vida de Cyril Ramaphosa está cheia de desafios que venceu: sindicalista, foi o braço direito de Nelson Mandela nas negociações que culminaram no fim do apartheid e a chegada ao poder do ANC em 1994; sendo preterido para a vice presidência do país, afastou-se da política e dedicou-se aos negócios, tornando-se um dos homens mais ricos do país. Voltou à política em 2012 para a vice-presidência do ANC e esta segunda-feira, venceu aquela que era considerada a candidata preferida da maior parte das estruturas do partido, Nkosazana Dlamini-Zuma, ex-mulher do Presidente.

Mas por mais difícil que possa ter sido vencer a eleição, Ramaphosa enfrenta agora uma missão complicada: unir as diferentes facções do partido e ao mesmo tempo ter a acção decisiva contra a corrupção que prometeu, e que o país espera, comentou o analista da BBC Milton Nkosi.

As eleições na liderança do ANC – e que provavelmente definem quem será o próximo líder sul-africano – foram seguidas com uma atenção especial pelos delegados no congresso e pelos sul-africanos em geral.

Ramaphosa enfrentava Nkosazana Dlamini-Zuma, e os principais candidatos na corrida simbolizavam dois caminhos diferentes para o partido no poder na África do Sul desde o fim do apartheid: Ramaphosa é um antigo sindicalista, entretanto empresário, e até agora número dois do partido, mas visto como um potencial reformista, especialmente na parte económica; Dlamini-Zuma, ex-mulher do Presidente, Jacob Zuma, é vista como uma candidata de continuidade, em especial de políticas vistas como falhadas em termos de emprego, por exemplo.

A margem foi pequena: o vencedor obteve 2440 votos e a derrotada 2261.

A paixão de Ramaphosa sempre foi a política. Foi nas lutas sindicais que aperfeiçoou a capacidade de negociação que seria depois vital para as negociações com o regime de Frederik de Klerk, e, sempre que havia bloqueios, era Ramaphosa quem era chamado para ajudar.

Em 1994, achou que poderia ser ele o número dois de Mandela (e este tê-lo-ia como “herdeiro” favorito), mas quando foi preterido e a vice-presidência para Thabo Mbeki (que foi mais tarde Presidente) afastou-se, recusando fazer parte do governo. Dedicou-se então aos negócios e tornou-se um empresário de sucesso. 

Ramaphosa prometeu lutar contra a corrupção e revitalizar a economia. Quando a sua vitória foi anunciada, Ramaphosa emocionou-se, enquanto os seus apoiantes gritavam em júbilo.

No mesmo momento, um jornalista filmou a cara do presidente Zuma: não era de agrado. A vitória da sua ex-mulher era vista como uma garantia de protecção contra novas investigações.

Mas, pouco depois, um abraço entre Ramaphosa e Dlamini-Zuma foi um sinal, para a emissora britânica BBC, de que pelo menos por agora as diferenças vão ser esquecidas.

Ramaphosa deverá, assim, ser o candidato do partido às próximas eleições, em 2019, e vários observadores esperam que as vença – apesar de nas últimas eleições municipais, de Agosto passado, o partido ter sido surpreendido com a perda de algumas das principais cidades do país, incluindo Pretória e Joanesburgo, para o principal partido da oposição, a Aliança Democrática.

A causa do declínio do partido liderado por Nelson Mandela foi atribuída aos escândalos de corrupção envolvendo Zuma – que se manterá na presidência até às eleições de 2019. Zuma sobreviveu há meses, por pouco, à oitava moção de censura no Parlamento, por causa de alegações de corrupção. 

O desafio é grande: o líder da Aliança Democrática, Mmusi Maimane, já declarou que Ramaphosa deveria declarar a sua determinação usando o seu novo poder para afastar Zuma antes das próximas eleições. 

E Julius Malema, de outro partido da oposição, avisou que “nada mudou realmente”: “O núcleo corrupto continua no centro da organização [ANC].”

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