Dividido como nunca, o ANC adiou por um dia a escolha do sucessor de Zuma

O partido que tem governado a África do Sul desde o fim do apartheid vai decidir esta segunda-feira se quer punir os excessos do actual Presidente.

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Quase seis mil delegados vão escolher o líder do ANC Reuters/SIPHIWE SIBEKO

O Congresso Nacional Africano (ANC) começou este domingo a escolher o seu próximo líder, num ambiente de forte tensão e desconfiança.

A luta para liderar o partido que tem dominado a política sul-africana desde o fim do apartheid está a ser travada taco a taco entre a facção afecta ao actual Presidente, Jacob Zuma, e os seus críticos que tentam capitalizar com o descrédito provocado pelas centenas de casos de corrupção que envolvem o ainda líder do ANC.

Apesar de haver vários candidatos à liderança do partido, a disputa resume-se a Nkosazana Dlamini-Zuma, ex-ministra e antiga presidente da União Africana, e a Cyril Ramaphosa, um antigo sindicalista que se tornou empresário e é actualmente vice-Presidente. Uma vitória de Dlamini-Zuma é vista como uma continuação das políticas da actual Administração – que vários economistas dizem estar por trás do elevado desemprego e fraco crescimento. Por outro lado, Ramaphosa é o favorito para introduzir reformas económicas e travar a perda de prestígio do ANC.

Num sinal de que o momento é delicado para o partido que chegou ao poder com Nelson Mandela em 1994, o início da conferência ficou marcada pela decisão de alguns tribunais declararem inválidas algumas das delegações escolhidas ao nível regional. De acordo com a líder da Liga Juvenil do ANC, Collen Maine, citada pela Reuters, a decisão impede que 122 dos quase seis mil delegados presentes na conferência não possam votar.

As primeiras indicações dadas a partir das reuniões dos ramos regionais do ANC mostravam uma ligeira vantagem a favor de Ramaphosa, mas os delegados presentes na conferência têm liberdade de voto. Esperava-se que a votação ficasse concluída este domingo, mas os atrasos causados pelas decisões judiciais levaram a direcção a adiar para segunda-feira.

No discurso de abertura da conferência, Zuma pediu unidade aos delegados e afirmou que o “facciosismo é a principal ameaça” que enfrenta o ANC. O Presidente sul-africano garantiu não apoiar oficialmente nenhuma das candidaturas, mas a generalidade dos analistas considera que a sua favorita é a de Dlamini-Zuma, sua ex-mulher.

Zuma é acusado em mais de 700 casos de corrupção e, nos últimos anos, sobreviveu a várias moções de censura no Parlamento. A sua convicção é de que com a ex-mulher à frente do partido – e, potencialmente, na presidência no país – lhe seja garantido algum tipo de protecção judicial. Um relatório publicado no ano passado pela protectora pública – uma figura semelhante ao provedor de justiça – acusava Zuma de ter beneficiado um grupo de empresários em contratos públicos. Os casos de corrupção e o mau estado da economia sul-africana têm contribuído para uma perda de legitimidade do ANC, e muitos receiam que o partido possa mesmo não conseguir uma maioria nas próximas eleições.

No ano passado, o ANC perdeu o controlo em algumas das principais cidades, incluindo Pretória e Joanesburgo, por causa do descontentamento da classe média.

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