Sobre a noite passada: reality bites em The Walking Dead

Contém spoilers: episódio ataca uma das cinco personagens que sobrevivia desde o início da série e gera críticas e espelha o que é crescer numa série de TV.

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Foi um plot twist que surpreendeu dois pais – ou até três se contarmos com a potencial surpresa de Robert Kirkman, autor da série de comics que dá origem à série de televisão The Walking Dead e que mantém a personagem bem viva nos livros. No final de meia-temporada de uma série que tem estado em parte a perder nas audiências e na apreciação crítica, o já esperado revés da intriga que mantém o público suspenso até ao regresso (a 26 de Fevereiro) teve um jovem protagonista inesperado – mesmo numa das séries que inaugurou a máxima narrativa “qualquer pessoa pode morrer”.

The Walking Dead, série oito, episódio oito: How It's Gotta Be, ou “como tem de ser” em português. Depois de oito horas televisivas na Fox (e, nos EUA, no canal AMC) em que várias linhas narrativas foram percorridas, e em que vários tempos, futuro incluído, se cruzaram, a revelação de que um dos cinco personagens remanescentes da temporada original vai desaparecer fechou esta primeira leva de episódios. Carl, o filho do protagonista Rick Grimes, interpretado por Chandler Riggs, revelou ter sido mordido por um dos zombies que povoam a América pós-apocalíptica que dá ambiente à série – e prova que afinal, mesmo num ciclo de guerra entre diferentes visões de humanidade, estes continuam a ser uma ameaça real no universo da série. Carl enfrenta (o que parece ser) morte certa.

Pelo menos é o que as entrevistas pós-episódio confirmam, entre as quais a do pai do actor, William Riggs, recorreu ao Facebook para criticar o showrunner Scott M. Gimple pela sua decisão narrativa: “Ver Gimple despedir o meu filho duas semanas antes do seu 18.º aniversário depois de lhe ter dito que o queriam por mais três anos foi uma desilusão”, escreveu Riggs na rede social, dizendo que o filho ficou “magoado”.

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O actor, que tinha 11 anos quando começou a filmar a série, mostrou-se mais conformado. “Deixar Walking Dead não foi uma decisão minha. Teve tudo a ver com a história. Fazia sentido no que toca à história”, disse à revista Hollywood Reporter. Mas admitiu que “foi devastador” para si e para a sua família e que até tinha comprado recentemente uma casa perto das filmagens, em Senoia, Geórgia.

Riggs, ou Carl, era visto como uma espécie de sucessor natural da personagem principal, Rick, interpretado por Andrew Lincoln, numa história que continua nos comics (com mais de 75 números) e que tem uma série prequela e a previsão (ainda sem encomenda oficial do AMC) de pelo menos mais duas temporadas. Um dos títulos mais valiosos da televisão actual, The Walking Dead é um sucesso de audiências que tem tido, apesar disso, um percurso irregular, com grandes picos de popularidade e quebras relativas. A par de A Guerra dos Tronos no reino do fantástico e do horror, e na esteira de produtos de prestígio de alta narrativa dramática audiovisual sobre figuras matizadas como Breaking Bad ou Os Sopranos, é uma das séries mais populares conhecida pelo seu risco narrativo em torno das personagens consideradas centrais, do qual tem retirado tanto dividendos quanto, mais recentemente, críticas.

Agora, Rick, ou Andrew Lincoln, não sabe o que o futuro guarda. À mesma revista, o actor inglês disse sobre o momento em que soube a novidade: “Simplesmente não falei durante um minuto. Sempre pensei que Carl iria ser aquele que lideraria a continuação da série; que Rick lhe passaria as botas e o revólver quando desaparecesse ao pôr-do-sol na temporada 28”. Gimple disse à Hollywood Reporter que, "como se vê, nenhuma personagem está a salvo" e que "é incrivelmente difícil perder alguém com quem se trabalhou tanto tempo". "Esperamos estar a contar uma história meritória disso", desse custo afectivo. 

A série regressa em Fevereiro (dia 25 nos EUA, na madrugada de 26 e na noite de 26 em Portugal, no canal Fox) e Chandler Riggs regressa com ela, para o que será provavelmente o seu último episódio. “A sua história acabou, decididamente”, diz o actor à mesma revista, sem conseguir afastar as dúvidas de alguns sobre se esta poderá ser mais um truque dos autores da série para depois revelar, afinal, outro destino. Se tal acontecer, escreve Luke Holland no Guardian, isso “significará que a série basicamente não faz sentido”; Charles Bramesco, no New York Times, classifica a decisão de eliminar esta personagem como “sadismo moral” num episódio que questiona “a relação entre a série e a sua base de fãs”, lamentando que nos últimos anos “a tristeza se tornou uma arma de força bruta que a série tem empunhado descuidadamente”.

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