"Dia de raiva" contra Trump e Israel faz dois mortos e dezenas de feridos

Milhares de pessoas nas ruas contra a decisão de Trump sobre Jerusalém. Há protestos em Hebron, Nablus, Jenin, Tulkarem e Jericó, na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e em Jerusalém Oriental.

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Belém MUSSA ISSA QAWASMA/Reuters
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Ramallah MOHAMAD TOROKMAN/Reuters
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Peshawar, Paquistão Reuters/AKHTAR SOOMRO
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Ramallah Reuters/MOHAMAD TOROKMAN
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Quetta, Paquistão LUSA/BILAWAL ARBAB
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Quetta, Paquistão LUSA/JAMAL TARAQAI

A decisão do Presidente norte-americano de reconhecer oficialmente Jersualém como a capital de Israel, anunciada a meio da semana, em Washington, motivou violentos protestos nas ruas da Cisjordânia e na Faixa de Gaza esta sexta-feira. Em luta contra uma medida que vêem como um insulto às reivindicações palestinianas, milhares de pessoas aceitaram o desafio de vários movimentos e cumpriram um "dia de raiva" contra Donald Trump e o Governo israelita.

Foi o segundo dia consecutivo de protestos violentos, mas na quinta-feira os relatos das agências de notícias falavam em centenas de pessoas nas ruas, num dia em que se destacaram mais as críticas à decisão da Casa Branca e os apelos às manifestações.

Esta sexta-feira, para além dos tiros com balas de borracha com que os pelotões reforçados do Exército de Israel travaram os ataques com pedras dos jovens palestinianos, os confrontos fizeram pelo menos dois mortos e 200 feridos — Mahmud al Masri, de 30 anos, foi morto por tiros de soldados israelitas na Faixa de Gaza, junto à fronteira com Israel, segundo as informações avançadas pelo Ministério da Saúde palestiniano, citado pela agência Reuters. Mais tarde, um homem de 54 anos morreu no hospital em Gaza, não tendo resistidos aos ferimentos, noticiam a Reuters e a agência palestiniana WAFA.

Segundo a cadeia de televisão Al Jazira, que colocou o número de feridos nas duas centenas, pelo menos 16 pessoas foram hospitalizadas. O jornal israelita Haaretz fala em 60 feridos.

Os maiores protestos tiveram lugar em Jerusalém, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza (houve protestos em Hebron, Nablus, Jenin, Tulkarem e Jericó), mas a decisão dos Estados Unidos inflamou também vários países no Médio Oriente e na Ásia, como a Indonésia, a Malásia, o Paquistão e o Afeganistão.

Logo após o meio-dia, o jornalista Hoda Abdel-Hamid, que está em Ramallah (a sede do governo da Autoridade Palestiniana), disse que os confrontos pareciam estar a dissipar-se, depois de "várias horas de confrontos entre jovens palestinianos e o Exército israelita". Mas a meio da tarde a violência regressou, e nada garante que não continue nos próximos dias — os apelos aos protestos variam entre a "revolta generalizada mas não violenta", do político Mustafa Bargouhti, à resposta contra a "declaração de guerra de Donald Trump", dos movimentos Hamas e Jihad Islâmica.

Apesar das diferenças no tipo de resposta, vários movimentos islâmicos palestinianos apelaram a que se cumprisse esta sexta sexta-feira um "dia de raiva" contra a decisão de Donald Trump.

Jerusalém é uma cidade santa para cristãos, judeus e muçulmanos. É um barril de pólvora e, por isso, qualquer pequena decisão sobre o seu estatuto pode provocar um grande conflito. Ao reconhecer que Jerusalém faz parte do território de Israel e é a sua capital, o Presidente norte-americano tomou uma decisão de profundas consequências.

Esta mudança no estatuto de Jerusalém, do ponto de vista dos Estados Unidos, teve ecos em parte do mundo muçulmano. Há também protestos na Indonésia, Malásia e Paquistão, países asiáticos de maioria muçulmana. Na capital afegã, Cabul, centenas de pessoas queimaram efígies do Presidente Donald Trump e bandeiras dos Estados Unidos da América. A multidão gritou "morte à América", "morte a Trump" e "morte a Israel" — a segurança das embaixadas americanas foi reforçada nestes países e em outros na região do Médio Oriente e na Ásia.

Ao fazer o anúncio sobre Jerusalém, na quarta-feira, Trump disse que o seu vice-presidente, Mike Pence, iria visitar o Médio Oriente para conversações sobre um futuro plano de paz para a região. Afinal, quase todo o mundo criticou a decisão da Casa Branca e aguarda agora para conhecer os próximos passos do plano norte-americano para a região — em particular, que contrapartidas terá Washington para oferecer aos palestinianos para que a previsível escalada de violência possa ainda ser travada.

Como era também previsível, o anúncio de Donald Trump e a notícia de uma viagem de Mike Pence ao Médio Oriente não foram bem recebidos: o grande imã Ahmed al-Taye, líder da mais alta instituição do islão sunita, a egípcia Al-Azhar, rejeitou esta sexta-feira o pedido para um encontro com o vice-presidente norte-americano, em protesto contra a mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém. 

O encontro foi marcado para o dia 20 de Dezembro, mas o imã disse que, antes disso, o Presidente norte-americano tem de voltar atrás com a sua decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

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