Assad na Rússia para acertar com Putin o tom das negociações de paz

Desde que começou a guerra na Síria, o Presidente só deixou o país duas vezes, e ambas foram viagens à Rússia.

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O abraço entre Vladimir Putin e Bashar al-Assad em Sochi LUSA/MICHAEL KLIMENTYEV/SPUTNIK/KREMLIN / POOL

Não há muitos lugares no mundo onde o Presidente da Síria, Bashar al-Assad, seja bem vindo, mas na sua curta visita à Rússia, o líder ostracizado pela comunidade internacional depois de seis anos de guerra sangrenta, recebeu o tratamento de um herói. A viagem de Assad até à estância de Sochi, no mar Negro, não foi previamente anunciada, mas isso não impediu o seu anfitrião Vladimir Putin – o maior aliado internacional do Presidente sírio – de demonstrar perante as câmaras, com abraços, sorrisos e apertos de mão, o grau de cumplicidade e entendimento entre os dois.

Depois do líder sírio, o Presidente da Rússia recebe, esta quarta-feira, os Presidentes do Irão, Hassan Rouhani, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Os três países – que no início do ano intermediaram uma trégua entre as forças de Assad e os grupos rebeldes e que se mantém em vigor em quatro áreas da Síria –, preparam-se para alargar o âmbito dos seus esforços, e negociar uma solução política para pôr fim ao conflito que já fez mais de 400 mil mortos e milhões de refugiados. Paralelamente, haverá uma reunião dos chefes militares russos, turcos e iranianos para coordenar as suas operações na Síria, em concreto “a eliminação dos grupos terroristas do Daesh e Frente Al-Nusra”.

Ao fim de dois anos de ataques aéreas, Vladimir Putin quer dar por terminada a campanha militar na Síria. Foi o envolvimento da Rússia, em nome do combate ao terrorismo, que reverteu o sentido da guerra e devolveu a Damasco a iniciativa territorial. “Transmiti ao Presidente Putin e a todo o povo russo os meus sentimentos de gratidão por todos os esforços para salvar o meu país”, agradeceu Assad, em declarações aos jornalistas.

Segundo especulam os analistas internacionais, a ida de Assad a Sochi terá servido para Putin lhe explicar o tipo de acordo que pretende negociar: o líder sírio terá tido uma oportunidade para expôr o seu próprio plano para recuperar o país e para obter algumas concessões ou garantias de Moscovo, por exemplo na definição das fronteiras internas – as áreas sob domínio do Governo, as áreas ainda controladas pelos rebeldes, o território de maioria curda, e ainda as zonas da província de Idlib onde ainda estão activos os grupos jihadistas.

Segundo o porta-voz do Kremlin, depois da conversa preparatória com Assad, o Presidente russo está em condições de assegurar que a liderança síria concorda com as condições que sustentam o rascunho de acordo para o fim do conflito. “Assim sabemos que o documento que será discutido é viável”, justificou Dmitri Peskov, que recusou confirmar se foram discutidas ou até mesmo acertadas as propostas para o futuro político de Assad (que a Rússia insiste terá de ser decidido pela população síria).

Notoriamente ausentes desta conferência estarão os Estados Unidos: esta terça-feira, o Kremlin garantiu que Putin tinha agendado um telefonema com Donald Trump para lhe dar conta da sua conversa com Assad e da evolução das negociações. O Presidente russo também informará a Arábia Saudita sobre os esforços conjuntos com o Irão e Turquia, que apoiam lados opostos do conflito, para fechar o processo de paz.

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