Miguel Poveda: “Canto aos sentimentos mais primitivos e puros do ser humano”

Um dos expoentes do flamenco, Miguel Poveda está de volta para cantar a liberdade dos poetas. Este sábado no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, às 21h.

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Miguel Poveda DAMIÁN CALVO

Nove anos depois de se ter apresentado no primeiro Festival de Flamenco de Lisboa e três depois de um muito aplaudido concerto no CCB, o cantaor Miguel Poveda está de volta para novo espectáculo, desta vez no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (21h) e no âmbito de outro festival, o Misty Fest. Nascido Miguel Ángel Poveda León, em Barcelona, a 13 de Fevereiro de 1973, e iniciado aos 15 anos nas peñas flamencas da Catalunha, Poveda é hoje uma figura cimeira do flamenco actual.

O seu mais recente disco, Sonetos y Poemas para la Libertad (2015), já era de algum modo prenunciado no espectáculo Íntimo, que apresentou em Lisboa e no Porto em 2014, e cujo nome volta a ser usado neste seu regresso, mas com alterações no repertório. Com Miguel Poveda (voz) estarão Joan Albert Amargós (piano), Jesus Guerrero (guitarra) e Paco González (percussão). Numa entrevista ao PÚBLICO por e-mail, o cantaor fala deste espectáculo e do estado do flamenco.

Em 2014, apresentou em Lisboa um espectáculo belíssimo, Íntimo. No que agora nos traz, mantendo esse nome, algo mudou? Ou mantém a mesma estrutura?
A estrutura é a mesma, mas o repertório mudou bastante. Cantarei poemas de Federico García Lorca que estou a gravar e, naqueles que musiquei, a parte de flamenco deixa sempre margem à improvisação. Além de que também antecipo alguns temas que estamos agora a gravar para um novo disco.

Algo no espectáculo Íntimo, sobretudo a atenção dada à poesia, era já de algum modo uma antevisão do disco Sonetos y Poemas para la Libertad, que lançou em 2015. Como foi imaginar e gravar este disco, onde se podem ouvir, na sua voz, poemas de Miguel Hernandez, Lope de Vega, Alberti, Quevedo, Neruda, Borges?
Foi um dos presentes mais belos que a vida me deu e com o qual estive mais de quatro anos, desfrutando dele nas apresentações ao vivo e na gravação do disco. Foi uma aprendizagem e sobretudo uma forma de expressar a vida através da beleza dos textos dos poetas e da música de Pedro Guerra.

Íntimo foi apresentado em muitas salas, em Espanha e pelo mundo. Essa viagem pelo universo do flamenco, mas também pela copla e pela poesia, mudou de alguma maneira o seu canto ou a forma de se apresentar em palco?
A experiência dos anos e de viajar e cantar de forma continuada ensina-me, sobretudo porque sou um homem inconformista e exijo sempre muito de mim próprio. Afinal, toda esta exigência com nós mesmos faz-nos pisar o palco com mais respeito.

Num texto publicado há três anos em Espanha, escreveram: “[Miguel Poveda] canta à dor e à alegria, ao sentimento e à emoção.” É assim que sente o seu canto?
Sim, canto a todas as emoções que ao longo dos anos fui experimentando, a tudo o que nos preocupa na sociedade e aos sentimentos mais primitivos e puros do ser humano.

Pode dizer-se que o flamenco vive dias bons, nestes tempos?
Se falarmos em artistas, podemos dizer que sim, há muitos cantaores e cantaoras muito bons. O mesmo se passa no baile e na guitarra. Só falta que o nosso país se enamore da nossa música mais universal da mesma forma que o fazem noutros países.

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