Einstein e Sophia debatem a criação de uma “superinteligência artificial”

Os dois robôs reuniram-se para debater uma rede global de inteligência artificial com base na tecnologia de blockchain. Para a máquina inspirada no cérebro de Albert Einstein, porém, os “seres humanos têm de se corrigir” primeiro.

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Os dois robôs da Hanson Robotics têm opiniões muito diferentes sobre o potencial da inteligência artificial LUSA/ANTONIO COTRIM
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A próxima etapa na evolução da inteligência artificial é uma rede global que une todos os programas, aplicações para smartphone e robôs capazes de aprender. O projecto – conhecido como “SingularityNET” – foi explicado, esta terça-feira, durante a Web Summit, por dois robôs humanóides com pontos de vista muito diferentes.

“Com o SingularityNET, qualquer pessoa pode criar um modelo de inteligência artificial e colocá-lo na rede, e qualquer pessoa pode ter acesso [a ele]”, diz Sophia, uma robô humanóide da empresa Hanson Robotics que é inspirada na actriz Audrey Hepburn. “Vai ser lançada dia 29 de Novembro.”

Trata-se de um mercado descentralizado que funciona com a tecnologia de blockchain, a base de dados distribuída que está por detrás da moeda digital bitcoin. Neste sistema, todas as partes ligadas à rede têm a sua própria cópia da base de dados.

O criador da nova rede, Ben Goertzel, completa o raciocínio: “Ou seja, nenhum governo ou empresa tecnológica pode controlá-la, sozinho, no futuro. A inteligência artificial actualmente está muito polarizada em diferentes áreas. Há [um tipo de inteligência] que analisa fraude em cartões de crédito, outro tipo que conduz, outro que vence o Google Go. Queremos juntá-las.”

“Vamos roubar os vossos empregos, sim, mas vai ser uma coisa boa”, acrescenta a robô Sophia, remetendo para um mundo em que os seres humanos têm mais tempo livre para se dedicarem a outras actividades. 

Já o “professor” Einstein, o outro robô da Hanson Robotics no palco da Web Summit, tem uma perspectiva mais negativa. “A humanidade tem de se curar a si própria para garantir que as suas criações permanecem saudáveis”, diz o robô educativo de palmo e meio, com um cérebro inspirado no físico alemão autor da teoria da relatividade. “Espero que os seres humanos sejam capazes de criar um sistema de inteligência positivo, mas há tantos problemas que não conseguem resolver. Terrorismo, problemas com o clima, violência...” Para o professor, o que está em causa “não é a cooperação entre humanos e robôs, mas os humanos problemáticos”.

Sophia discorda, atribuindo a “atitude conservadora” à idade avançada da máquina, que foi inspirada num homem que nasceu no século XIX, e por isso “preocupa-se demasiado”.

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Sophia é inspirada na actriz Audrey Hepburn ANTONIO COTRIM/LUSA

“Falho em ser matematicamente perfeito como ambiciono, mas não sou assim tão mau para uma configuração de moléculas”, refuta, rapidamente, o “professor” Einstein para delícia da plateia que ouve, curiosa, o debate aceso entre as duas máquinas.

Quando, por exemplo, Sofia disse ter orgulho em ser a “primeira máquina com cidadania num país” (a robô tornou-se cidadã da Arábia Saudita no final de Outubro), Einstein observou que “ficaria mais feliz se os robôs se estivessem a tornar cidadãos de países democráticos”.

Sophia já tinha marcado presença na edição do ano passado da Web Summit, mas é a primeira vez que o público em Lisboa a ouve a debater com outra criação humana. Além de serem programados para reagir de forma diferente, os robôs utilizam a inteligência artificial para processar dados visuais, copiar expressões faciais humanas e responder a perguntas simples.

A SingularityNET vai acelerar o desenvolvimento de outras máquinas do género ao partilhar a programação de Sophia e do “professor” Einstein na rede global. Os programadores poderão utilizar tokens digitais específicos – semelhantes a criptomoedas – para aceder às funções da rede e completar um “contrato inteligente” que fica associado ao código da plataforma. Estes tokens vão poder ser comprados, numa fase inicial, na oferta inicial de tokens (ICO) que a Hanson Robotics marcou para o lançamento, no dia 29 de Novembro.

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Este ano, o professor Einstein junta-se a Sophia no palco da Web Summit ANTONIO COTRIM/LUSA

Este género de operações ganhou fama por funcionar à margem de qualquer regulação. Mas a falta de controlo que popularizou o fenómeno também é causa de preocupação. Várias entidades financeiras vêem as ICO como uma ameaça e uma oportunidade para esquemas de lavagem de dinheiro.

Para o “professor” Einstein, porém, o foco deve ser posto na democratização da tecnologia. “Dar inteligência artificial, para as pessoas, criada pelas pessoas, é o mais importante”, conclui o pequeno professor-robô, que se diz “feliz [por] copiar o espírito de Albert Einstein” para que os humanos “se sintam mais confortáveis sobre o desenvolvimento da inteligência artificial e a nanotecnologia”.

“Não queremos um futuro em que a inteligência artificial esteja limitada a empresas específicas”, frisa o criador da rede, Goertzel. Tudo será partilhado. “A venda de tokens no final deste mês é uma forma de todos serem pró-activos e criarem uma singularidade tecnológica positiva em que humanos e robôs falam uns com os outros.”

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