Rui Rio e Santana Lopes no campeonato dos afectos do partido e do país

Os dois candidatos na corrida à liderança reuniram-se com os deputados do PSD em Braga. Ambos falaram muito de afectividade, um termo que está de regresso ao léxico político pela mão de Marcelo.

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Rio , Santana e Passos juntos nas jornadas do PSD LUSA/HUGO DELGADO

Um partido, dois candidatos à liderança e dois estilos ou até mesmo duas visões. Pedro Santana Lopes e Rui Rio cumprimentaram-se perante as câmaras de televisão entre as duas reuniões, em separado, com os deputados sociais-democratas durante as jornadas parlamentares do PSD, em Braga. Um deixou aos jornalistas algumas linhas do seu programa, o outro não se pronunciou sobre essas propostas fora da sala de reuniões, mas assumiu que quer falar directamente ao coração dos portugueses.

A pergunta fora lançada aos dois pelos jornalistas, após cada uma das reuniões: o que o distingue como candidato à liderança do PSD?

O ex-primeiro-ministro Santana Lopes começou por referir “a capacidade de ousar num país muito fustigado” e de fazer acreditar nos “sonhos”. Depois explicou os três pilares em que o PSD se deve concentrar se for eleito líder e apontou o horizonte de trabalho para 2025. O programa está assente em três pilares: o financiamento das políticas sociais, reorganização de território e a agenda do crescimento, abrangendo a política fiscal e simplificação administrativa. Para concretizar essa aposta, Santana Lopes defende a criação de “três comissariados ou unidades de missão” no PSD, liderados pelo “presidente do partido e cada um com um responsável”.  

Para o projecto da descentralização e reorganização do território – “que são duas legislaturas” – Santana Lopes defende um “consenso alargado”, envolvendo populações, autarcas e até o Presidente da República.

Sobre a eleição no partido, Santana Lopes diz que a escolha do líder deve ser entre “o mais distante” e o “mais próximo”. E voltam as referências, ainda que indirectas, ao Presidente da República: “Não sou campeão dos afectos nem sempre tenho um sorriso mas sei falar com as pessoas na área social, com os mais idosos, os mais dependentes”.

O campeonato dos afectos também acabou por constar das respostas de Rui Rio, depois de mais de uma hora a falar e a responder às perguntas dos deputados. “Sá Carneiro e Cavaco Silva não foram campeões dos afectos” e governaram “com sucesso”, afirmou, considerando que um líder tem de ter uma componente de racionalidade e uma componente de afectividade. Não há dúvidas de que Marcelo Rebelo de Sousa introduziu palavras novas no léxico político português.

À pergunta sobre o que o distingue do adversário, o ex-autarca do Porto não quis falar de si próprio: “É desagradável”. Mas soube dar uma sugestão aos militantes que vão votar dia 13: “Eu aconselharia a votar [no candidato] mais próximo dos portugueses”, afirmou, justificando com a facilidade em “relançar o partido na sociedade portuguesa”. Esta estratégia tem por base a ideia de que Rio tem boa aceitação fora do partido tal como sustentava uma sondagem da Aximage/Correio da Manhã publicada há duas semanas.

Já sobre as propostas, Rio escusou-se a “detalhar” em pouco tempo o que falou aos deputados dentro da sala. Ao que o PÚBLICO apurou, o ex-autarca do Porto reiterou a necessidade de um acordo para fazer reformas no país e que o partido acaba por ser “instrumental” no objectivo que é o país. Em resposta a perguntas dos deputados, Rui Rio disse que teria seguido uma linha idêntica de rumo da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, no sentido de ter as contas públicas em ordem.  

Enquanto Santana Lopes fez um elogio ao trabalho de Passos Coelho – lá dentro como cá fora – Rui Rio não se coibiu de apontar os maus resultados das autárquicas, os de agora e os de há quatro anos. O ex-primeiro-ministro foi ainda questionado por um deputado sobre o motivo pelo qual diz sempre PPD/PSD. E justificou: É porque significa participação, partilha percurso e respeito pela história do partido.

As primeiras jornadas da direcção da bancada liderada por Hugo Soares acontecem na sua terra natal. Não é que já seja visível um apoio institucional a um dos candidatos. A distrital de Braga não irá assumir uma posição formal nesta corrida, afirmou ao PÚBLICO o líder da estrutura José Manuel Fernandes. O dirigente considera que a posição de equidistância é a que melhor serve o objectivo de manter a distrital unida e defende que esta corrida interna não deve incentivar as divisões internas e deixar marcas para o futuro do partido.

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