George Papadopoulos pode ser a verdadeira pedra no sapato de Trump

O antigo conselheiro para a política externa da campanha do actual Presidente foi detido em Julho e admitiu que mentiu ao FBI. Papadopoulos estará a colaborar com a investigação há meses e pode ser o primeiro ponto de ligação entre a campanha de Trump e Moscovo.

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Papadopoulos aparece (terceiro à esquerda) numa fotografia publicada pela campanha de Trump em Março de 2016 Reuters/HANDOUT

Os Estados Unidos entraram nesta segunda-feira em alvoroço com as primeiras consequências práticas da investigação sobre a interferência russa nas eleições norte-americanas de 2016 liderada pelo procurador especial Robert Mueller. A detenção de Paul Manafort, antigo chefe de campanha de Donald Trump, é o acontecimento que ocupa grande parte do destaque da comunicação social americana e internacional. Mas, também nesta segunda-feira, ficou a saber-se que George Papadopoulos se declarou culpado por ter mentido às autoridades sobre os contactos que manteve com a Rússia. E isso pode ser, para já, a verdadeira dor de cabeça da Casa Branca de Trump.

O Presidente norte-americano já reagiu às notícias, afirmando que as acusações que recaem sobre Manafort são irrelevantes para as suspeitas de conluio entre a actual Administração e Moscovo, pois os factos relatados remontam a um período durante o qual o consultor político e lobista nada tinha a ver com a campanha de Trump. E, pelo que se sabe, o Presidente norte-americano tem razão. Resta saber se, no caso de Manafort, as acusações apresentadas por Mueller são apenas o início e se serão utilizadas para catapultar a investigação e chegar ao círculo próximo de Trump ou se, pelo contrário, o procurador especial encarregue da investigação sobre a ingerência russa não tem mais do que aquilo que foi apresentado.

Mas existiram dois factos que pouca atenção mereceram perante a importância de Manafort na caminhada de Trump rumo à Casa Branca: primeiro, George Papadopoulos, que foi conselheiro para a política externa da campanha do actual Presidente dos EUA, foi detido em Julho. E, em segundo lugar, admitiu formalmente ter mentido ao FBI quando foi questionado sobre os contactos que manteve com um russo conhecido como o “Professor”.

Estes dois factores poderão implicar um incómodo maior para Trump do que a própria detenção de Manafort. Isto porque, por um lado, Papadopoulos disse às autoridades que manteve estes contactos com o “Professor” antes de entrar na equipa de campanha do agora Presidente. Ora, o documento divulgado pelo FBI nesta segunda-feira, onde se explica a confissão, diz que “Papadopoulos encontrou-se com o Professor pela primeira vez no dia 14 de Março, de 2016, depois de Papadopoulos saber que iria ser conselheiro para a política externa da campanha”. Além disso, explica-se que o “Professor” apenas “mostrou interesse em Papadopoulos depois de saber do seu papel na campanha”.

Mas há mais. O FBI relata um encontro entre o “Professor” e Papadopoulos em Abril de 2016, um mês depois de este se ter juntado à campanha de Trump, onde o primeiro o informou de que os russos tinham na sua posse informação “suja” sobre Hillary Clinton. “Os russos têm emails de Clinton”, “eles têm milhares de emails”, terá dito o “Professor”.

Por outro lado, o facto de Papadopoulos ter sido detido em Julho indica que este poderá estar a colaborar com as autoridades há meses, sem se saber ainda que tipo de informações ofereceu relativamente ao alegado conluio entre a campanha republicana e Moscovo.

Ou seja, se Trump poderá dizer, e com razão, à luz do que sabe neste momento, que o caso contra Manafort nada tem a ver consigo, no caso de Papadopoulos a argumentação fica mais difícil. Isto porque, pela primeira vez, a investigação de Mueller terá conseguido ligar a campanha de Trump com Moscovo, e que essa relação tinha um objectivo: prejudicar Hillary Clinton. E, além disso, os problemas para a Administração norte-americana podem ainda vir a crescer. Aqui, a Administração enfrenta um factor ainda mais preocupante: o desconhecimento. É que, apesar de saber da elevada probabilidade de Papodopoulos ter vindo a colaborar com a investigação nos últimos meses, ninguém sabe o que o antigo conselheiro da campanha de Trump ofereceu a Robert Mueller. "O interesse da justiça criminal que está aqui a ser reivindicado é que há uma investigação em larga escala da qual este caso é uma pequena parte", referiu Aaron Zelinsky, membro da equipa do procurador especial, durante a audiência onde Papadopoulos realizou a admissão de culpa, e cujas transcrições foram divulgadas nesta segunda-feira.

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