Não interessa quem ficou mais chocado. “Chocado ficou o país” diz Marcelo

O chefe de Estado respondeu à manchete do PÚBLICO afirmando que o mais importante são as pessoas. Ao lado de Marcelo, ministro da Defesa foi questionado sobre o discurso do Presidente: “Estava a ver que não perguntava, não fiquei nada chocado”, disse Azeredo Lopes.

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Marcelo continua nos Açores LUSA/MIGUEL A. LOPES

O Presidente da República afirmou nesta quinta-feira que “chocado ficou o país com a tragédia vivida” com os incêndios de Outubro. Foi a resposta directa à manchete do PÚBLICO sobre o facto de o Governo ter ficado “chocado” com a declaração ao país que Marcelo Rebelo de Sousa fez na passada semana.

“Há duas maneiras de encarar a realidade: uma é o diz que disse especulativo de saber quem ficou mais chocado, se foi A com o discurso de B, se foi B com o discurso de A. E depois há outra maneira que é perceber que chocado ficou o país com a tragédia vivida pelos milhares de pessoas atingidas”, disse Marcelo Rebelo de Sousa na Praia da Vitória, Açores.

“O país esperou uma palavra dirigida às vítimas e espera, com urgência, a reparação, reconstrução e olhar para o país atingido”, acrescentou ainda, sugerindo que a declaração ao país feita no dia 16 à noite não teria respondido a essa expectativa. “E rapidamente, porque esse país não pode ser esquecido sistematicamente”, acrescentou.

Depois, numa visão de médio prazo, Marcelo deixou um recado: “Faltam menos de dois anos para o termo da legislatura, deste Parlamento e deste Governo, e portanto há uma urgência.” Ou seja, o Governo tem de agir depressa porque vai a votos em menos de dois anos. E tira a conclusão: “A forma correcta de olhar para este problema é a segunda, e quem olha para a realidade na base do diz que disse especulativo não entendeu e não entende nada do que se passou nas últimas semanas.”

Questionado sobre o artigo publicado no último Acção Socialista, Marcelo insistiu: “O que interessa é o choque que o país sofreu, a capacidade de resposta e uma resposta rápida.” E sobre as relações com o primeiro-ministro reincidiu no que dissera na véspera: “O que os portugueses esperam é que o Presidente coloque o essencial muito acima daquilo que não tem importância nenhuma, e o essencial são as vidas desaparecidas, as vítimas que esperam a reparação, a reconstrução, que possam retomar a sua existência. Tudo o resto, com o devido respeito, parece-me totalmente irrelevante.”

A seguir, o ministro da Defesa, que acompanhava o Presidente, foi questionado sobre se tinha ficado chocado e respondeu claramente: “Estava a ver que não perguntava, não fiquei nada chocado.”

No continente, o ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, Pedro Marques, também falou sobre o assunto para dizer que o Governo não discutiu em Conselho de Ministros “estados de alma” ou notícias de jornais, tendo dando prioridade à recuperação dos concelhos afectados pelos fogos recentes.

“Não discutimos estados de alma dos membros do Governo, nem notícias da comunicação social”, declarou Pedro Marques, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do Conselho de Ministros desta quinta-feira.

Antes, o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Tiago Antunes, havia também referido que em causa estava uma conferência de imprensa de resumo da reunião dos ministros, não um encontro com os jornalistas para abordar “estados de alma”.

“Essa matéria não foi discutida no Conselho de Ministros de hoje. Não houve qualquer tratamento, nem abordagem dessa matéria”, referiu Tiago Antunes, questionado sobre a manchete de hoje do PÚBLICO: “Governo chocado com Marcelo: ‘As coisas estavam combinadas.’” Com Lusa

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