Museu de Arte Antiga em "iminência de ruptura"

António Filipe Pimentel, o director, volta a alertar para a complicada situação em que se encontra um dos principais museus portugueses. A solução dos problemas, garante, carece de uma "decisão política" que passe por dar ao MNAA autonomia.

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O Museu de Arte Antiga teve perto de 176 mil visitantes em 2016 NFS - Nuno Ferreira Santos

O director do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), António Filipe Pimentel, afirmou hoje, em Lisboa, que aquela instituição está em "iminência de ruptura", e defendeu que é preciso decidir com urgência o seu futuro modelo de gestão.

O responsável falava à agência Lusa no intervalo do debate MNAA do século XXI - Modelos de gestão, financiamento e recursos humanos nos museus da Europa, que decorre naquele museu até ao final da tarde desta sexta-feira, com a participação de directores de museus congéneres de Itália, Espanha e Luxemburgo.

"O museu está na iminência de ruptura, desde logo no plano dos recursos humanos. Temos menos de 50% dos funcionários que tínhamos em 1998. E também precisa de crescer fisicamente, e ganhar uma nova dimensão que permita cumprir bem a sua missão", sustentou o responsável.

Recorde-se que, no Verão, o museu chegou a estar praticamente todo fechado aos fins-de-semana quando se agudizou a sua já crónica falta de vigilantes. Um cenário que se verificou mesmo depois de Luís Filipe Castro Mendes, ministro da Cultura, ter anunciado, em Novembro de 2016, um reforço de três elementos, na sequência de um trágico incidente em que um visitante derrubou involuntariamente uma escultura barroca do Arcanjo S. Miguel. A peça com 250 anos regressou às galerias do museu em Maio, depois de cuidadosamente restaurado.

Sublinhando que a resoluação dos problemas do MNAA carece de uma decisão "política", o director reiterou a posição que tem vindo a defender ao longo dos últimos anos, sustentada na conclusão de que o MNAA "está num limite além do qual já não é possível avançar".

"A situação actual resulta da seguinte ponderação: devemos desperdiçar todo o trabalho de consolidação de marca internacional que o museu fez nos últimos anos, e de continuar a ser o embaixador de Portugal no mundo, ou saltar em frente, protegendo tudo isso?"

António Filipe Pimentel defende um modelo de autonomia que garanta "condições administrativas, de recursos humanos, e financeiras" para o futuro. "Ou desperdiçamos tudo o que conseguimos ou saltamos em frente", reiterou, recordando que a anterior tutela da Cultura - através da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) - pediu a realização de um estudo, em 2013, com consultores externos, sobre o futuro do museu, concluído e entregue há dois anos, e sobre o qual "nunca tomou posição ou avançou com medidas".

O estudo, encomendado pela DGPC em 2013, e entregue à tutela em 2015, defende a criação de um modelo de empresa pública para o MNAA.

Intitulado MNAA2020, configura as bases de uma proposta de novo modelo de gestão, dotando o museu de instrumentos administrativos e financeiros e de um quadro de recursos humanos progressivamente proporcional, bem como a expansão e requalificação das estruturas físicas desta entidade.

Foi no quadro deste estudo que o Grupo dos Amigos do MNAA decidiu organizar um debate entre museus públicos semelhantes, na dimensão e missão, de Espanha, Itália e Luxemburgo.

"O que tem de se encontrar, é a fórmula de manter essa dimensão do museu, que é público, mas dando-lhe a agilidade que ele actualmente não tem", sustentou o director da instituição.

O atual ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, tem vindo a declarar publicamente que está a ser estudado um novo modelo jurídico para dar mais autonomia a algumas entidades culturais.

Pimentel defende uma maior autonomia na gestão do orçamento - que tem sido de dois milhões de euros nos últimos anos -, "mas mantendo o acompanhamento prévio [e posterior], a validação total das contas pela administração central, dando-lhe a estabilidade de poder contar com um orçamento a três anos" capaz de "gerar uma dinâmica construtiva".

Este modelo autonómico, garante Pimentel, "é inteligente, flexível e permite [ao museu] cumprir bem a sua missão".

O director recordou ainda que, em Portugal, "o MNAA é a única instituição da sua representatividade que não tem um modelo autónomo de gestão: a Biblioteca Nacional, a Cinemateca, a Torre do Tombo, os teatros nacionais, todos têm autonomia, com limites, que sempre existem, mas foi pensado para eles esse modelo, precisamente porque sempre se sentiu essa necessidade".

Criado em 1884, o MNAA acolhe a mais relevante colecção pública de arte antiga do país, com pintura, escultura, artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão, desde a Idade Média até ao século XIX, e é um dos museus com maior número de obras classificadas como tesouros nacionais.

Além dos Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, o acervo integra ainda, entre outros tesouros, a Custódia de Belém (1506), de Gil Vicente, encomenda D. Manuel I, e os Biombos Namban, do final do século XVI, que registam a presença dos portugueses no Japão.

Bosch, Dürer, Piero della Francesa, Holbein, o Velho, Pieter Bruegel, o jovem, Lucas Cranach, Jan Steen, Van Dyck, Murillo, Ribera,  Poussin, Tiepolo e Fragonard são alguns dos mestres europeus representados na sua colecção.

Em 2016, o MNAA teve perto de 176 mil visitantes, mantendo o segundo lugar na lista dos mais visitados dos museus nacionais (o primeiro é o Nacional dos Coches, com quase 383 mil).

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