De saída, Schäuble rejeita ideias de Macron para reforma da UE

Ainda não há um Governo alemão depois das eleições, mas já há um desentendimento franco-alemão

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O último Eurogrupo de Schäuble: o ministro das Finanças deixou um "presente envenenado" para Merkel JULIEN WARNAND/EPA

Wolfgang Schäuble teve esta semana o seu último encontro do Eurogrupo mas deixou a resposta alemã às propostas do Presidente francês, Emmanuel Macron, e do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, para mais integração europeia e novas regras para a estabilidade da zona euro.

O documento de Schäuble tem apenas três páginas mas rejeitava grande parte das propostas francesas, que Angela Merkel tinha considerado "uma boa base de discussão". Um orçamento comum para a zona euro, não é, para o alemão, “economicamente necessário para uma união monetária estável”.

Schäuble defende ainda que qualquer ajuda do Mecanismo Europeu de Estabilidade seja dada “sob estrita condicionalidade do mecanismo de reformas” – no que Paris, disseram diplomatas ao Financial Times, vê como um modo de ter restruturações automáticas de dívida que possam destruir confiança dos investidores e acabar por ser prejudiciais.

O documento foi apresentado na segunda-feira, como “um início de conversa”, a continuar em Dezembro – altura em que se espera que já haja um acordo de coligação para um governo da Alemanha.

O diário alemão Die Welt chamou a este documento “um último presente envenenado” de Schäuble, que sai de cena para enfrentar um desafio à altura dos seus 45 anos de política: liderar um Parlamento em que entrou o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha, AfD,com as suas técnicas ruidosas e disruptivas.

Com todas as atenções no que fará a Alemanha, Merkel não está, no entanto, a deixar-se apressar: as reuniões “exploratórias” para a formação de uma coligação de Governo só começam na próxima semana.

Na noite eleitoral, Merkel disse que a força estava na serenidade, e é assim que está a prosseguir, mesmo que a tarefa de distribuir cargos no governo e prioridades políticas contraditórias entre a sua CDU, a gémea bávara CSU, os liberais e os verdes, façam antever negociações longas e complexas para a primeira coligação do género a nível federal.

No domingo, Merkel chegou a um compromisso com a CSU sobre um "limite" à entrada de refugiados: só poderão entrar 200 mil pessoas por ano, mas não haverá limites impostos na fronteira. Evitando um limite forçado – recusado quer pelos liberais quer pelos verdes, o consenso permite avançar nas conversações.

A ideia de que o FDP quererá ficar com as Finanças é generalizada. O facto de o FDP ter prescindido desse ministério, que foi então ocupado por Schäuble, em 2009, é visto como a razão da desastrosa passagem dos liberais num governo com Merkel e terem ficado fora do Parlamento nas eleições seguintes.

Mas será que Christian Lindner, 38 anos, sem qualquer experiência executiva, vai mesmo querer o ministério deixado por um dos políticos mais populares da Alemanha? Outra hipótese é que lidere o grupo parlamentar do partido e deixe o lugar a um político mais experiente, como o veterano Wolfgang Kubici, 65 anos, o número dois do partido, ou Werner Hoyer, 66, presidente do Banco Europeu de Investimento.

Lindner apresentou-se, na campanha, como defensor de uma linha dura em relação aos países do euro em dificuldades, sugerindo até que passasse a ser possível a saída dos incumpridores da UE e do euro, opôs-se à ideia de um perdão parcial da dívida grega, e sugeriu condicionar os subsídios aos países a um cumprimento orçamental rigoroso.  

O próprio Lindner rejeitou as propostas de Macron, classificando-as como um avanço “para a mutualização da dívida”, disse ao Politico.

Mas os liberais têm-se apresentado agora mais abertos à negociação. Um porta-voz do partido declarou no Twitter que “o FDP já sublinhou muitas vezes que apoiaria cerca de 80% das propostas de Macron. Os restantes 20% teriam de ser negociados”.

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