Porto Rico em alerta máximo à espera do furacão Maria

“Perdemos tudo aquilo que o dinheiro pode comprar”, explicou o primeiro-ministro da Dominica, ilha devastada pela quarta grande tempestade no Atlântico em poucas semanas.

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As primeiras imagens que chegam de Guadalupe dão conta de fortes inundações ANDRES MARTINEZ CASARES/Reuters

Maria, o quarto grande furacão da época no Atlântico, espalhou a devastação na ilha Dominica e, depois de rasar os territórios ultramarinos franceses da Martinica e Guadalupe, onde fez já um morto e dois desaparecidos, avança na máxima força em direcção a Porto Rico e às Ilhas Virgens norte-americanas, onde a população recebeu instruções para procurar abrigo em zonas mais seguras.

Na ilha de Guadaloupe, 80 mil casas ficaram sem electricidade, e na Martinica 50 mil. Ambas são territórios ultramarinos de França. Mas a Dominica, ilha-nação de 72 mil pessoas no Leste das Caraíbas, foi arrasada. “Perdemos tudo aquilo que o dinheiro pode comprar”, afirmou o primeiro-ministro quando a manhã tinha já revelado a dimensão dos estragos. Durante a noite de segunda-feira, Roosevelt Skerrit escrevera no Facebook que o telhado da sua residência oficial tinha sido arrancado pelos ventos de 250 km/h do Maria, que em pouco mais de 24 horas passou de tempestade tropical a furacão de categoria 5 na escala de Saffir-Simpson, comparável ao Irma, que há menos de duas semanas arrasou várias ilhas e a Florida.

“Neste momento não estou preocupado com os danos materiais, que são devastadores, incompreensíveis. A minha preocupação é socorrer quem está encurralado e levar assistência aos feridos”, acrescentou o primeiro-ministro, sublinhando que quase todas as pessoas que conhece ou quem falou ficaram sem telhado nas suas casas.

Em Guadalupe a situação é ainda incerta, com notícias escassas sobretudo das ilhas mais isoladas e expostas à fúria dos ventos. “Temos já algumas informações iniciais sobre cheias, casas inundadas e estradas submersas”, revelou através do Twitter Eric Maire, prefeito do departamento de Guadalupe, recomendando à população para permanecer abrigada até a tempestade passar.  

Nas previsões não há indícios de que o Maria vá perder força em breve – ainda que os ventos no centro da tempestade possam oscilar ligeiramente –, beneficiando da temperatura superior ao normal da água do mar e de correntes favoráveis. O observatório francês de tornados (Keraunos) prevê mesmo que o furacão ganhe força na aproximação a Porto Rico, onde poderá chegar quarta-feira com rajadas de ventos de até 300 km/h.

Se mantiver a força actual, este será o furacão mais forte a atingir a ilha de 3,4 milhões de habitantes desde 1932, adianta o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC), antecipando uma tempestade “potencialmente catastrófica” que inclui também níveis de precipitação muito elevados e uma subida do nível do mar que atingir em algumas zonas os 2,7 metros.

Previsões que levaram as autoridades a abrir centros de acolhimento, a desmantelar gruas por toda a ilha e a ordenar a evacuação obrigatória de 44 municípios na costa Sul. “Vocês têm de sair. De outra forma vão morrer”, avisou Hector Pesquera, o comissário de Segurança Pública porto-riquenho, dirigindo-se aos que recusam abandonar as suas casas, mesmo as menos resistentes ou mais expostas ao furacão. 

As mesmas precauções estão a ser adoptadas nas ilhas Virgens americanas, em particular Santa Cruz, a maior daquele território que acabou por ser poupada pelo Irma, que causou danos muito avultados e várias vítimas mortais nas ilhas mais a norte. O centro do furacão deverá passar a escassos quilómetros da ilha e o governador Kenneth Mapp pediu à população para se deslocarem para os centros de abrigo antes da chegada da tempestade, aconselhando quem optar por ficar em casa e abrigar-se dentro de banheiras, protegendo-se com colchões para o caso de os telhados serem arrancados.

O Maria é a 13ª tempestade do ano, a sétima a ganhar força de furacão e a quarta, em apenas algumas semanas a atingir pelo menos a categoria 3 na escala Saffir-Simpson, depois do Harvey, Irma e Jose (este último continua activo ao largo da costa leste dos EUA). Em declarações ao jornal Le Monde, o meteorologista Jean-Noël Degrace, explicou que 2017 não é um ano extraordinário no que diz respeito ao número de tempestades – o recorde foi atingido em 2005, ano em que foram registados 26 fenómenos ciclónicos.

“A situação é excepcional porque é extremamente raro ter quatro grandes ciclones tão próximos na mesma região”, explicou o cientista, residente na Martinica, afirmando que a temperatura atmosférica nas Antilhas está a aumentar “acima das médias registadas a nível global”. Sublinha, no entanto, que não há ainda dados consistentes para afirmar que as alterações climáticas estão a aumentar o número de furacões ou a sua intensidade. 

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