China e Rússia não querem cortar petróleo à Coreia do Norte

Washington apresenta no Conselho de Segurança medidas adicionais para aprofundar sanções contra o regime norte-coreano.

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O regime de Kim Jong-un celebrou no sábado o 69.º aniversário da fundação do país Reuters/KCNA

O Conselho de Segurança das Nações Unidas discute esta segunda-feira a aplicação de um novo pacote de sanções contra a Coreia do Norte, na esperança de impedir novos ensaios nucleares e balísticos pelo regime liderado por Kim Jong-un. Os Estados Unidos e os seus aliados querem impor um embargo às importações de petróleo por Pyongyang, mas a Rússia e a China têm mostrado oposição a esta medida.

Passa pouco mais de um mês desde que o Conselho de Segurança da ONU aprovou o último conjunto de sanções, descritas na altura pela embaixadora norte-americana, Nikki Haley, como “as mais duras numa geração” contra a Coreia do Norte. As medidas impõem uma série de limitações ao comércio com o regime, com potencial para tirar um terço do rendimento que todos os anos entra nos cofres norte-coreanos proveniente das exportações.

O ensaio nuclear de domingo passado renovou o sentido de urgência entre a comitiva norte-americana que quer levar o historial de sanções contra a Coreia do Norte a um novo patamar. A proposta que será apresentada pelos EUA esta segunda-feira inclui o fim das importações de petróleo pelo regime, o congelamento dos bens de Kim, um embargo às exportações de têxteis norte-coreanos e um bloqueio ao pagamento dos trabalhadores norte-coreanos no estrangeiro.

A introdução do petróleo no pacote de sanções é o grande factor de discórdia entre os membros permanentes do Conselho de Segurança. A China e a Rússia – que entre si têm a capacidade para fechar a torneira do oleoduto que mantém o regime norte-coreano à tona – têm reservas quanto à inclusão do petróleo, temendo um colapso da liderança do país.

“A Rússia e a China estão ambas interessadas na manutenção do regime da Coreia do Norte, que encaram como uma espécie de tampão em relação às alianças norte-americanas no Nordeste Asiático”, diz ao South China Morning Post o investigador da Universidade Federal do Extremo Oriente (Rússia), Artiom Lukin.

Um corte das exportações petrolíferas da China para a Coreia do Norte – cujas necessidades energéticas dependem em 90% do fornecimento chinês – não seria inédito. Em 2003, Pequim cortou durante três dias o abastecimento ao seu aliado como forma de mostrar desagrado pela realização de um teste nuclear sem aviso prévio.

Desta vez, Pequim e Moscovo têm insistido na necessidade de iniciar um processo de diálogo com a Coreia do Norte, que implica concessões de ambos os lados. O congelamento do desenvolvimento nuclear por Pyongyang deve ser respondido com uma suspensão dos exercícios militares dos EUA na região e a remoção do sistema antimíssil recentemente instalado na Coreia do Sul – que é considerado uma ameaça à segurança nacional pela China.

É provável que a proposta norte-americana de sanções adicionais seja alvo de negociações em Nova Iorque. Fontes diplomáticas diziam à AFP que a oposição sino-russa não inclui a proibição à exportação de têxteis pela Coreia do Norte, o que pode constituir uma via para que se alcance uma solução de compromisso. A investigadora do Centro James Martin para Estudos de Não-Proliferação, Catherine Dill, considera que neste momento “não é politicamente possível” uma rejeição directa das sanções por parte de Moscovo e Pequim.

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