Actor abandona Hellboy e pede maior inclusão étnica no cinema

Ed Skrein decidiu afastar-se do projecto cinematográfico depois de críticas à escolha do actor branco para a interpretação de uma personagem de origem asiática.

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LUSA/NINA PROMMER

O actor britânico Ed Skrein, recentemente anunciado como um dos nomes do elenco do remake do filme Hellboy, afastou-se na segunda-feira do projecto após uma onda de contestação nas redes sociais. Em causa estava o facto de Skrein, um actor branco, ter sido escolhido para representar Ben Daimio, uma personagem de origem asiática.

A escolha tinha motivado críticas a Hollywood por ser mais um exemplo da tendência dos grandes estúdios de nomear actores brancos para representarem personagens com origens étnicas distintas. O britânico de 34 anos, que interpretou o vilão Ajax em Deadpool, explicou que não conhecia a origem da personagem mas deu razão aos críticos, optando por abandonar voluntariamente a produção para que seja feito um novo casting.

“Na última semana foi anunciado que iria interpretar o papel do major Bem Daimio no remake do filme Hellboy. Aceitei o papel sem saber que a personagem na banda-desenhada tinha origens asiáticas”, começa por contextualizar Skrein numa mensagem que partilhou no Twitter.

“Tem havido uma conversa intensa e um expectável descontentamento desde o anúncio, e eu tenho de fazer o que sinto que está certo. É claro que representar uma personagem com a ascendência correcta tem um significado para as pessoas, e negligenciar essa responsabilidade iria continuar uma tendência preocupante de esconder as histórias e as vozes das minorias étnicas nas artes”, justifica o actor.

"Sinto que é importante honrar e respeitar isso. Portanto, decidi desistir para que o papel possa ser atribuído adequadamente", anunciou.

“A representação da diversidade étnica é importante, especialmente para mim, pois tenho uma família de origem mista. É nossa responsabilidade tomar decisões morais em tempos difíceis e dar voz à inclusão. Espero que um dia essas discussões se tornem menos necessárias e que possamos ajudar a fazer da representação igual nas artes uma realidade”, continua a mensagem.

O actor admite que ter tomado a decisão o deixa “triste”, mas entende que foi um gesto importante: “Espero fazer a diferença”.

A interpretação de personagens negras, asiáticas ou de outras origens étnicas por parte de actores brancos tem sido alvo de críticas recorrentes, enquadrando-se num problema mais vasto da falta de representatividade de certas comunidades na sétima arte. Em 2016, por exemplo, a lista de nomeados para os Óscares incluiu apenas artistas brancos, motivando uma campanha de contestação nas redes sociais sob a etiqueta #OscarsSoWhite. É precisamente daquele ano a polémica em torno da escolha da actriz branca Tilda Swinton para interpretar uma personagem tibetana em Doutor Estranho. E um ano antes, a escolha de Emma Stone para representar outra personagem de ascendência asiática em Aloha também foi motivo de duras críticas, com o realizador Cameron Crowe a acabar por pedir desculpa pelo casting.

Em resposta à decisão de Ed Skrein, a produtora Lionsgate declarou que apoia “a humilde decisão do actor”. “Não era nossa intenção sermos insensíveis em relação a assuntos de etnia e autenticidade, e vamos fazer o casting de maneira a encontrar um actor que interprete a personagem de uma maneira mais coerente com o original”, declararam a Lionsgate e a Millenium, citadas pela Variety.

A decisão já mereceu o elogio do criador da banda-desenhada Hellboy, o norte-americano Mike Mignola, que agradeceu ao actor através do seu Twitter.

O filme deverá estrear em 2018. Ian McShane e Milla Jovovich também integram o elenco.

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