O barato que pode sair caro a Trump

O Presidente dos EUA assinou um decreto que acabou com uma lei de Obama que obrigava a incluir os riscos de inundação nas novas construções.

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“Vamos construir infra-estruturas rapidamente, relativamente barata, e o processo de autorização será muito, muito rápido”, prometeu Trump Joshua Roberts/REUTERS

Dez dias antes de o furacão Harvey atingir o Texas, Donald Trump assinou um decreto presidencial para revogar uma lei de Barack Obama que obrigaria a levar em conta os riscos de inundação, aumentados pela subida dos mares, nos novos projectos de construção feitos com dinheiro dos contribuintes americanos.

O actual Presidente dos EUA, já se sabe, não se deixa impressionar com os riscos das alterações climáticas – como se prova por ter tirado o seu país do Acordo de Paris. Para ele, o mais importante era a construção de infra-estruturas, como estradas, pontes e edifícios públicos. “Vamos construir infra-estruturas rapidamente, de forma relativamente barata, e o processo de autorização será muito, muito rápido”, prometeu Trump.

As regras impostas pela legislação de Obama agravariam o custo das obras – mas aliviariam o preço dos seguros, explicaram num artigo de opinião no Politico o ambientalista Robert Moore e o especialista em seguros Franklin Nutter. “As cheias estão na origem de 90% dos desastres naturais nos EUA e são os mais mortíferos. Só no ano passado mataram 155 pessoas”, escreveram. “Nas últimas duas décadas, duplicou o valor dos danos que causam, para mais de dez mil milhões de dólares anuais”.

A subida do nível dos mares põe em risco até 128 bases militares norte-americanas, por exemplo, na Virgínia, alertou a Union of Concerned Scientists.

A mensagem enviada pelo Governo norte-americano, no entanto, é a de laissez-faire. O congressista Ralph Abraham, da Luisiana – o estado de Nova Orleães, a cidade severamente atingida pelo furacão Katrina, em 2005 – celebrou a decisão de Donald Trump de revogar a lei de Obama que estabelecia novos padrões de construção. Comentou que os custos de construção aumentariam “25 a 30%”, porque grande parte do estado seria declarado como planície de cheia.

“Já tivemos mais do que a nossa quota de tragédias com água, mas também já temos problemas que chegue para cumprir o que nos é requerido”, afirmou, citado pelo New York Times. “O novo plano tornaria tudo mais caro para os residentes da Luisana." Os apoiantes da legislação promovida por Obama dizem que os custos aumentariam 0,25 a 1,25%, mas que no longo prazo os contribuintes acabariam por poupar dinheiro com os novos padrões de construção, mais resistentes a cheias.

Um artigo publicado na revista científica Nature Climate Change no ano passado prevê que uma subida do nível dos mares de 1,8 metros em 2100 causada pelo aquecimento global deixaria debaixo de água áreas da costa do Pacífico, do Golfo do México e do Atlântico dos EUA suficientes para deixar 13,1 milhões de pessoas em risco.

Cerca de 40% dos americanos vive junto à costa, onde estão instaladas infra-estruturas de grande importância, como se vê pelo caso do Texas. Como se prepara o país de Trump até lá será responsabilidade dos políticos a nível local e em Washington. 

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