Erdogan diz aos turcos na Alemanha para não votarem em Merkel ou Schulz

"Digo aos meus cidadãos que não apoiem estes partidos. São inimigos da Turquia", afirmou o Presidente turco. É um novo episódio no azedar de relações diplomáticas entre os dois países.

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"Dêem o apoio necessário a partidos políticos que não se empenhem na inimizade contra a Turquia”, afirmou Erdogan Murad Sezer/REUTERS

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apelou aos cidadãos que têm dupla nacionalidade, turca e alemã, que não votem nas legislativas de Setembro nem na CDU de Angela Merkel, nem na SPD de Martin Schulz, nem sequer n’Os Verdes, afirmando que estes partidos alemães “são inimigos da Turquia”.

As palavras de Erdogan são uma clara interferência nas eleições de outro país – uma resposta ao que ele considera estar a ser o uso abusivo da Turquia na campanha eleitoral alemã. “Estamos ver os social-democratas [SPD], e a CDU [democratas-cristãos] a dizer ‘podemos ter muitos votos se batermos na Turquia’. Por isso digo aos meus cidadãos na Alemanha para que não apoiem estes partidos. Não apoiem a CDU, a SPD ou Os Verdes. São todos inimigos da Turquia”, declarou.

O Presidente turco não deu uma indicação de voto para as legislativas de 24 de Setembro – embora restem apenas os liberais, a extrema-direita e a extrema-esquerda entre os partidos com hipóteses de entrar no Parlamento.  

“Dêem o apoio necessário a partidos políticos que não se empenhem na inimizade contra a Turquia”, afirmou Erdogan. “Não importa que sejam o primeiro ou o segundo partido. Isto é uma luta pela honra de todos os meus cidadãos que vivem na Alemanha”, afirmou.

As relações entre a Alemanha e a Turquia tiveram uma viragem para pior em Julho, com o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, o social-democrata Sigmar Gabriel, a anunciar uma “reorientação da política externa" relativamente à Turquia, após um crescendo de problemas diplomáticos entre os dois aliados.

A prisão e condenação e do jornalista alemão com dupla nacionalidade Deniz Yücel na Turquia foi a gota de água que fez entornar definitivamente o copo. Mas segundo números avançados em Julho pelas autoridades alemãs, desde a tentativa de golpe de Estado falhada de há ano na Turquia, e da repressão intensificada desde então, foram detidos 22 cidadãos alemães no país do Presidente Erdogan, dos quais nove estão actualmente presos.

Na sequência da reorientação da sua política face a Ancara, Berlim anunciou, entre outras medidas, que iria rever a sua política de exportações de armas para a Turquia, seu aliado na NATO.

A Alemanha, tal como outros países da União Europeia, tem criticado o controlo cada vez mais apertado que Erdogan exerce sobre o poder na Turquia, sobretudo depois de o referendo constitucional de Abril lhe ter conferido muito mais poderes como chefe de Estado, diminuindo os do Parlamento e do Governo.

A Alemanha, tal como outros países europeus com muitos imigrantes turcos, impediu Erdogan e alguns dos seus ministros de realizarem comícios de campanha para o referendo – foi mais um diferendo diplomático com Ancara a azedar relações com a UE. No entanto, a Turquia e a UE estão ligadas por um acordo para travar os refugiados provenientes das guerras no Médio Oriente, mantendo-os afastados das fronteiras europeias. Cortar relações não é do interesse de nenhum dos parceiros, embora surjam sinais de que alguns dirigentes gostariam até de pôr um fim definitivo às negociações para a adesão da Turquia à União Europeia, há muito em ponto morto.

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