A família Gupta, que Zuma fez poderosa, está a ser expulsa da África do Sul

Família de empresários é acusada de explorar amizade com o Presidente para benefício dos seus negócios.

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Manifestação na Cidade do Cabo, apelando à demissão de NIC BOTHMA/EPA

O império empresarial sul-africano da família Gupta está sob suspeita de ter explorado a amizade com o Presidente Jacob Zuma para sonegar milhões de rands (um rand vale 60 cêntimos de euro) ao erário público.

Um relatório feito pela anterior provedora anti-corrupção, Thuli Madonsela, divulgado ao deixar o cargo, no fim do ano passado, que indicava que o Presidente da África do Sul pode ter quebrado o código de ética do Governo na sua relação com vários membros da família Gupta, uma equipa de investigadores académicos e a maior associação de igrejas do país convergem na mesma acusação. Atul, Ajay e Rajesh Gupta usaram a sua amizade com Zuma para influenciar as nomeações de ministros e garantir contratos à medida com o Estado para as suas empresas.

O site The Daily Maverick e o Centro de Jornalismo de Investigação amaBhungane noticiaram, a 1 de Junho, uma fuga de centenas de milhares de emails trocados entre os Gupta e funcionários das suas empresas e associados de negócios, que mostram como a família e os seus aliados beneficiam da influência que exercem, de forma indevida, sobre o Governo sul-africano.

Atul Gupta, em entrevista à BBC Radio 4, a 1 de Agosto, garantiu que os emails “não são autênticos”.

Os quatro maiores bancos da África do Sul encerraram contas de empresas controladas pelos Gupta no ano passado, por causa da percepção dos riscos de se estar associado a esta família, que chegou ao país, vinda da Índia, na década de 1990. Em Abril, o Bank of Baroda, de Bombaim, anunciou que seguiria pela mesma via, o que deixaria os Gupta sem bancos com que trabalhar, de acordo com três fontes conhecedoras do assunto. A 27 de Julho, o jornal de Joanesburgo Star disse que as contas dos Gupta seriam fechadas dentro de um mês.

A empresa Oakbay Resources and Energy, controlada pela família Gupta, foi forçada a sair da Bolsa de Joanesburgo no mês passado. A família afirma que os seus negócios são legais e que está ser vítima de interesses económicos “brancos” – uma exploração da luta anti-racista que se ouve por estes dias na boca dos apoiantes de Jacob Zuma.

“Os Gupta estão a ser expulsos do país de várias formas. Tornaram-se intocáveis no sentido em que agora ninguém quer negociar com eles”, afirmou Mpumelelo Mkhabela, analista político na Universidade de Pretória.

A capacidade de Zuma proteger a família e os seus negócios está muito diminuída, com os apelos à sua demissão – e em Dezembro, sairá da liderança do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido que sempre liderou a África do Sul, desde o fim do apartheid. Face ao aumento da pressão no seio do próprio ANC para acabar com a “captura do Estado”, um termo largamente usado no país para descrever a influência indevida de interesses privados nas instituições governamentais, Zuma prometeu nomear uma comissão de inquérito sobre a família Gupta. E o Parlamento está a preparar uma investigação mais vasta sobre a captura do Estado.

O primeiro negócio dos Gupta na África do Sul, nos anos 1990, foi de revenda de computadores, antes de comprarem participações em minas de urânio e carvão, um complexo turístico de luxo com casino, uma firma de engenharia, um jornal e um canal de televisão com notícias 24 horas.

Duduzane, filho de Zuma, trabalha com os Gupta há 13 anos. Começou como um estagiário, aos 22 anos, na empresa de computadores. Documentos que são consultáveis pelo público mostram que Duduzane e os Guptas participam nas administrações de pelo menos 11 empresas.

O relatório da provedora Thuli Madonsela mostrava o favoritismo de que tem gozado a família Gupta nos seus negócios com entidades públicas. Alegava, por exemplo, que Brian Molefe, o ex-CEO da eléctrica Eskom, os ajudou conseguir contratos na área da mineração de carvão. Os emails divulgados no Gupta Leaks mostram que um próximo dos Gupta terá garantido cerca de 340 milhões de euros em subornos num contrato para fornecer locomotivas ao operador ferroviário Transnet. Uma grande fatia do orçamento governamental para publicidade vai para os media da família, diz o partido da oposição Aliança Democrática.

Zuma e o seu filho, bem como os Gupta, negam qualquer crime. Mas a saída dos Gupta da África do Sul torna-se provável. “Estão numa posição extremamente difícil. A maré está a virar-se contra eles. Não têm futuro aqui”, considerou Andre Duvenhage, professor de Política na Universidade do Noroeste, em Potchefstroom.

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