“Há pessoas que têm a sorte de ter psicólogos no SNS. Outras não”

Isabel Trindade, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses, diz que carência tem impacto muito negativo: "Se as depressões, por exemplo, não forem tratadas numa fase inicial, as pessoas aparecem nos centros de saúde já quando estão a faltar ao emprego, a consumir muitos medicamentos."

Por que motivo é que os psicólogos estão distribuídos de forma tão heterogénea nos centros de saúde e nos hospitais públicos?
A entrada de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde processou-se de forma um bocado aleatória, teve que ver com as circunstâncias e com as especificidades das regiões. Por isso é que há centros de saúde e hospitais onde há mais psicólogos e outros com muito poucos profissionais. Em Portugal, há assim pessoas que têm a sorte de ter psicólogos no Serviço Nacional de Saúde, enquanto outras não. O que temos é muito pouco e está muito mal distribuído, sobretudo nos cuidados de saúde primários.

Quantos psicólogos seriam necessários para responder de forma adequada às necessidades da população?
Não é fácil fazer essas contas. O que posso dizer é que, mesmo que tivéssemos um psicólogo para cada centro de saúde, isso não seria nada, só daria para fazer consultoria. E, olhando para o total de profissionais [917] identificado neste relatório, mesmo que fosse o dobro, eram poucos. Por exemplo, em áreas com muitos problemas de violência, de exclusão social, como Loures, Odivelas, Amadora, Sintra, há pouquíssimos psicólogos.  Estamos à espera que sejam contratados mais, mas ainda não houve contratações, apesar das promessas [do Ministério da Saúde]. As entradas dos últimos tempos são resultado de concursos antigos que estavam atrasados.

Nos centros de saúde, as carências são enormes.
Sim e isso tem repercussões. No caso das depressões, por exemplo, se estas não forem tratadas numa fase inicial, as pessoas aparecem nos centros de saúde já quando estão a faltar ao emprego, a consumir muitos medicamentos, em grande sofrimento. E o que parece ser um gasto em recursos, a médio prazo, pode representar uma poupança.

Mas a nossa intervenção não se restringe à saúde mental. Há muito trabalho que pode ser feito. Nas doenças crónicas, na diabetes, por exemplo, podemos ajudar no incentivo ao auto-cuidado. Temos também o apoio a crianças e jovens, às grávidas. Durante muito tempo os serviços foram assegurados graças ao trabalho voluntário. Se as recomendações que fazemos no relatório avançarem e forem operacionalizadas, penso que se poderá dar uma resposta muito melhor à população.

Notícia actualizada: Foi retirada a frase “Agora, os estágios têm que passar a ser obrigatórios no SNS”.

 

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