Marcelo: Quem esperava dissolução da AR tem de "compreender que há realmente prioridades nacionais"

Em entrevista ao DN, o Presidente nega ainda ter desdramatizado os casos de Pedrógão e Tancos, exigindo o apuramento de responsabilidades.

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As prioridades nacionais, diz Marcelo, exigem "estabilidade política" Rui Gaudencio

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, admite que houvesse “alguns dos eleitores de centro-direita” a desejaram a dissolução da Assembleia da República, mas que tal nunca chegou a ser ponderado, defendendo que a estabilidade política continua a ser essencial. Numa longa entrevista de 16 páginas publicada no Diário de Notícias (DN) deste domingo, Marcelo diz ainda que nunca desdramatizou os acontecimentos de Pedrógão Grande nem o furto de armamento militar em Tancos, considerando ser “fundamental apurar o que se passou” em ambos os casos.

“Quando a partir do início de Abril, em teoria, eu como Presidente poderia ter dissolvido a Assembleia da República – penso que alguns dos eleitores de centro-direita esperaram isso ou desejaram isso ou ansiaram por isso e, nisso, tiveram alguma desilusão – isso estava completamente fora do meu pensamento”, afirma o Presidente ao DN, argumentando que tal teria “consequências dramáticas” nos Orçamentos de Estado. O chefe de Estado afirma que Portugal continua a enfrenta desafios, e que para tal é preciso “continuar a controlar o défice, ele tem de descer” e “acelerar o crescimento” da economia, o que “exige estabilidade política que deve apontar para o cumprimento de legislaturas".

Marcelo admitiu ainda que a passagem de Pedro Passos Coelho do Governo para a oposição é “muito difícil”. “É fundamental que as oposições sejam fortes”, disse, apesar de ressalvar que “o pior erro que o Presidente da República poderia fazer era intrometer-se na vida partidária”. O chefe Estado diz que “não é defensor da excelência do chamado bloco central” e que “é positivo haver para o Governo do país soluções diversas”.

No que toca à sua relação com o Governo, Marcelo acredita que “o Presidente não tem de ter confiança política pessoal no primeiro-ministro ou nos membros do Governo, tem de ter uma confiança político-institucional”. 

“É preciso retirar lições” dos incêndios

Em relação ao incêndio em Pedrógão Grande – que deflagrou a 17 de Junho e provocou 64 mortes (mais duas que estão a ser investigadas) – Marcelo diz que nunca desdramatizou a situação, tendo-a caracterizado desde o início como uma “tragédia”. Exigiu “o apuramento de factos e responsabilidades”, o que levou à criação de uma comissão independente que considera ser “uma solução inédita”.

O Presidente não se quer manifestar sobre a questão dos incêndios até haver resultados do inquérito relativo a Pedrógão. “É preciso retirar lições desta época de fogos”, declara, considerando, no entanto, que é “de bom-tom guardar essas apreciações para depois” já que, tal como na guerra, não se discute “a estratégia no meio dos acontecimentos”.

Sobre Tancos, o Presidente da República – que por inerência de funções é o comandante supremo das Forças Armadas – garante que se trata de “um acontecimento grave” que não desdramatiza. “Não é suposto entrar e sair de instalações militares, para qualquer fim que seja, sem cumprir determinadas regras”, vinca, acrescentando que é “fundamental apurar o que se passou”. Marcelo afirma que foi “até ao limite” dos seus poderes ao “visitar a própria instalação militar no momento em que estavam a decorrer as investigações".

Na entrevista, o Presidente referiu ainda a possibilidade de se recandidatar a Belém, adiantando que só daqui a três anos olhará para essa "realidade”, decidindo nesse sentido se o “dever ético e o dever cívico” o ditar. Em relação ao sistema financeiro, Marcelo afirma que “a questão dos activos problemáticos ainda está como uma das prioridades nos próximos tempos”. E declarou que espera que a Caixa Geral de Depósitos consiga “cumprir a sua missão, começando por ser viável e que, por outro lado, tenha em linha de conta o tecido social português”.

Ao longo das 16 páginas publicadas no DN, Marcelo falou também da situação na Venezuela e da aquisição da Media Capital por parte da multinacional Altice.

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