Barnier alerta para risco de impasse, se não houver acordo sobre factura do "Brexit"

Negociador da UE para o "Brexit" responde a Boris Johnson: "Não estou a ouvir ninguém a assobiar, apenas o relógio a fazer tiquetaque.”

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Francois Lenoir/Reuters

Michel Barnier, principal negociador da UE para o “Brexit”, não poupou nas palavras que dirigiu esta quarta-feira ao Governo britânico, avisando que as negociações podem cair num impasse, se o Reino Unido não reconhecer que tem de honrar os compromissos financeiros antes de deixar a União Europeia.

É já na segunda-feira que começa a primeira semana completa de negociações e esta quarta-feira Barnier deixou transparecer a sua impaciência com Londres, que não respondeu às propostas detalhadas que ele enviou sobre as principais matérias em cima da mesa. Isto depois de, na véspera, o chefe da diplomacia britânica, Boris Johnson, ter dito que se a UE acredita que o país vai pagar os milhões que lhe estão a exigir bem pode “esperar sentada” (“go wistle”, expressão que traduzida à letra seria algo como “ficar a assobiar”).

“Não estou a ouvir ninguém a assobiar, apenas o relógio a fazer tiquetaque”, respondeu o antigo comissário francês, assegurando que os restantes 27 Estados-membros “não estão a exigir um resgate, a castigar ou muito menos a vingar-se” da decisão britânica de sair da UE. “Não iremos exigir ao Reino Unido nem mais um euro, nem mais uma libra do que aquilo que já se comprometeram a pagar”, insistiu Barnier, sublinhando que chegar o quanto antes a um acordo sobre esta matéria é essencial para cimentar a confiança entre as duas partes. “Como é que se constrói uma relação durável e de longo prazo com um país no qual não se confia? Como é que isso é possível?”  

De acordo com o calendário definido pela UE – e aceite pelo ministro britânico para o “Brexit” na primeira reunião, a 19 de Junho – os próximos meses serão passados a discutir os termos da saída britânica, com Bruxelas a avisar que só aceitará iniciar a discussão sobre o futuro das relações (incluindo o acordo de comércio) se houver “avanços suficientes” nas três questões que considera prioritárias, o que inclui, além das contribuições britânicas, o estatuto da fronteira entre as duas Irlandas e os direitos dos cidadãos afectados pelo “Brexit”.

E também aqui deixou claro que considera insuficiente a proposta de Londres para os cidadãos europeus, afirmando que o novo estatuto previsto para quem já resida há mais de cinco anos no país não garante todos os direitos de que essas pessoas beneficiam actualmente. Insistiu também que o Tribunal de Justiça da UE, de cuja alçada Londres quer sair, tem de ser o “último garante” destes direitos.

“As três prioridades desta primeira fase de negociações são inseparáveis, o que quer dizer que o progresso num ou em dois tópicos não é suficiente para avançarmos com a discussão sobre o futuro das nossas relações com a UE”, reafirmou o negociador, que esta quarta-feira se reuniu em separado com o líder da oposição britânica, Jeremy Corbyn, e os chefes dos governos autónomos da Escócia e País de Gales, Nicola Sturgeon e Carwyn Jones. Esses encontros serviram para “ouvir diferentes pontos de vista no debate britânico”, explicou Barnier, assegurando, porém, que só negoceia com David Davis. 

 

 

 

 

 

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