Qatar quer ser indemnizado pelos custos do bloqueio árabe

Secretário de Estado americano aterra no Kuwait para tentar evitar que a crise no Golfo Pérsico se intensifique.

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Um dos mais de 100 aviões operados a partir da base dos EUA no Qatar Reuters

Em mais um sinal de que a crise aberta com o bloqueio imposto pela Arábia Saudita e outros países árabes ao Qatar vai continuar a subir de tom, o Governo do pequeno e rico emirado do Golfo Pérsico anunciou a criação de um comité especial para tentar obter indemnizações multimilionárias destes Estados. O anúncio aconteceu horas antes da chegada do secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, ao Kuwait, para tentar ajudar a encontrar uma solução para a disputa.

Há mais de um mês que a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Egipto cortaram todos os laços com o Governo qatari e impuseram um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo ao país, que acusam de “apoio ao terrorismo” e de “interferência constante nos [seus] assuntos internos”. Entretanto, o Qatar recebeu e recusou uma lista de 13 exigências feitas pelas quatro capitais para pôr fim ao que descrevem como um simples boicote (“não um bloqueio”), onde se incluía o pagamento de “indemnizações por perdas de vidas ou financeiras causadas pela política do Qatar nos últimos anos”. 

O procurador-geral do Qatar, Ali bin Fetais al-Marri, explicou aos jornalistas em Doha que os pedidos de compensação serão feitos em nome das empresas afectadas pelo embargo. Na prática, a única fronteira terrestre do país (com a Arábia Saudita) está fechada, enquanto o bloqueio aéreo e marítimo fez disparar os preços das importações (o Qatar importa 90% dos alimentos) e está a interferir com as operações da Qatar Airways e de inúmeras outras companhias.

Doha rejeita as acusações – apesar de admitir que existem “preocupações válidas” dos países até aqui aliados – e recusou as exigências draconianas que envolviam fechar a televisão pan-árabe Al-Jazira, afastar-se do Irão ou o encerramento de uma base militar turca.

Teerão e Doha têm relações comerciais próximas (partilham as maiores reservas de gás natural do mundo) – para além dos turcos, têm sido os iranianos a enviar para o Qatar os bens essenciais que o país deixou de conseguir receber pelas vias habituais. Para Riad, as relações do pequeno emirado com o seu principal rival, a grande potência xiita da região, são inaceitáveis.

A Administração americana, que tem no Qatar um aliado na guerra ao terrorismo, considerou "inacreditável" que estes países lançassem acusações tão graves sem quaisquer provas. Esta segunda-feira, dando um passo além no seu envolvimento, Tillerson aterra no Kuwait, país que tem tentado mediar a crise. O objectivo da viagem é “realizar encontros com responsáveis kuwaitianos e debater os esforços para resolver a disputa do Golfo”.

A semana passada, no mesmo dia em que os ministros dos Negócios Estrangeiros dos quatro países se reuniram no Cairo para prometer continuar com “o boicote político e económico” e dar “novos passos contra o Qatar”, o Departamento de Estado avisava que a crise poderia arrastar-se.

“Estamos cada vez mais preocupados agora que esta disputa está num impasse. Acreditamos que tem o potencial para se arrastar durante semanas ou mesmo meses; possivelmente, pode até intensificar-se”, afirmou a porta-voz Heather Nauert. Tillerson já tinha pedido o fim do bloqueio, afirmando que este está a provocar consequências humanitárias (numa referência às milhares de pessoas separadas pelo embargo e expulsas destes países para o Qatar) inesperadas e a afectar a luta contra o Daesh.

“A nossa expectativa”, disse o secretário de Estado ainda em Junho, “é que estes países dêem passos imediatos para a acalmar a situação e se empenhem de boa-fé em resolver as queixas que têm uns contra os outros”. Nada disso aconteceu e o Qatar continua a ser o país onde os Estados Unidos têm a sede do seu comando militar regional (CENTCOM) e mais de 11 mil soldados.

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