Países do Norte devem seguir “exemplo de Portugal”, apela Guterres

Guterres fez primeira visita oficial a Portugal como secretário-geral e deixou três elogios rasgados ao país.

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Reuters/RAFAEL MARCHANTE

Na sua primeira visita oficial a Portugal como secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres deixou esta segunda-feira em Lisboa três elogios rasgados ao país. Em relação aos refugiados, à participação em operações de paz e à abordagem multilateral, Portugal “é exemplar” e deveria ser seguido pelos países mais ricos.

“Portugal é exemplo do caminho que queremos ver percorrido pelos países do Norte, pelos países do mundo desenvolvido”, disse Guterres no início da conferência de imprensa que deu a seguir a uma reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, no Palácio das Necessidades, em Lisboa. “O meu apelo é que cada vez mais países do mundo desenvolvido tenham cada vez mais tropas suas nas operações de paz das Nações Unidas.”

Guterres destacou o facto de Portugal estar a participar nas operações de paz na República Centro-Africana (com uma força de reacção rápida que “deu um contributo muito importante ao aumento da capacidade de resposta num país onde se mantêm graves incidentes de segurança”) e na missão internacional da ONU no Mali, para além de ter técnicos noutros países.

Olhando para a lista oficial de contribuições de tropas internacionais para as missões internacionais das Nações Unidas, torna-se evidente sobre o que está o secretário-geral da ONU a falar. Os números não estão totalmente actualizados e não coincidem em rigor absoluto com os dados oficiais referentes a Portugal. Dão de qualquer forma uma noção aproximada do contraste de que Guterres fala entre as contribuições do Norte e do Sul e a presença portuguesa nesses cenários difíceis. Na missão da ONU de estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA), estes são os dados oficiais da ONU: a Áustria não tem nenhum militar; nem a Bélgica; o Canadá; a Dinamarca; a Finlândia; a Alemanha; a Irlanda; a Holanda; a Noruega; a Suíça e o Reino Unido. Do "norte" e "desenvolvidos" há a Suécia, com 2 militares, a Espanha com 4, os EUA com 9, a França com 102 e Portugal com 161 (na verdade, segundo dados nacionais, são 159). Esta é uma missão com 12 mil tropas e polícias.

Já no Mali, na missão MINUSMA, que também tem um staff de 12 mil pessoas (militares, polícias e peritos), e onde Portugal tem 81 militares (segundo os dados nacionais), esta é a participação dos ”países do Norte e do mundo desenvolvido”: Áustria 5; Bélgica 19; Canadá 0; Dinamarca 12; Finlândia 15; França 35; Alemanha 618; Irlanda 0; Holanda 273; Noruega 16; Portugal 69; Suíça 8; Suécia 199, Reino Unido 2 e EUA 26.

"A reforma das operações de paz [que Guterres está a discutir desde Janeiro] exige que os países se empenhem não apenas como contribuintes financeiros, mas com a presença física das suas tropas em operações de paz e com apoio a outros países na modernização das suas forças armadas", sublinhou Guterres, que de manhã deu uma conferência sobre desenvolvimento a convite da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a quem agradeceu a oportunidade de "poder falar em português pela primeira vez em seis meses".

Guterres elogiou também o “forte compromisso de Portugal em relação ao multilateralismo, num momento em que muitos põem em dúvida que a resposta multilateral aos problemas globais” seja a mais eficaz. E sublinhou que, não estando na primeira linha em matéria de pressão, "tem cumprido exemplarmente as suas obrigações e a legislação internacional de refugiados, como a Convenção de 1951". "E infelizmente o mesmo não acontece em toda a parte – inclusivamente no quadro europeu."

No ano passado, morreram 117 militares e polícias de 43 países em operações de manutenção da paz, total a que se somam os mortos deste ano, de entre os quais um militar português que morreu no Mali em Junho. Há neste momento 96 mil soldados de 124 países em missões de paz. Desde a criação da ONU, morreram mais de 3500 capacetes azuis.

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