Corbyn sobe nas sondagens e cria polémica com discurso sobre o terrorismo

O líder trabalhista britânico relacionou as guerras em que o Governo de Londres se envolveu e o risco de atentados terroristas no Reino Unido. Tem 38% de intenções voto, face à 43% de Theresa May.

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O líder trabalhista conseguiu colocar o seu partido a cinco pontos de distância dos conservadores Hannah McKay/REUTERS

Apenas cinco pontos separam os trabalhistas dos conservadores nas intenções de voto para as eleições legislativas de 8 de Junho no Reino Unido, o que deixaria Theresa May com uma maioria de apenas dois deputados, diz a sondagem YouGov divulgada esta sexta-feira. Mas o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, mal teve oportunidade de saborear este feito: caiu sobre ele uma enxurrada de críticas por ter afirmado que as guerras no estrangeiro em que o país se envolveu estão a fomentar o terrorismo em território britânico.

“Muitos especialistas, incluindo profissionais nos serviços de informações e de segurança, sublinharam as relações entre as guerras que o nosso Governo apoiou e se envolveu noutros países e o terrorismo que enfrentamos na nossa terra”, afirmou Jeremy Corbyn.

Embora a culpa dos actos cometidos só possa ser atribuída aos terroristas, frisou o líder trabalhista, os governos devem reflectir sobre a eficácia das suas políticas. “Devemos ter a coragem de admitir que a guerra contra o terror pura e simplesmente não está a funcionar”, declarou Corbyn. “Precisamos de uma forma mais inteligente de reduzir o risco de países que estão na origem do terrorismo.”

Estas palavras foram recebidas com indignação por vários comentadores e líderes conservadores, que o acusaram de estar a desculpar terroristas. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, afirmou que as declarações de Corbyn são “absolutamente monstruosas”.

Mas no passado, quando estava bem longe de estar no Governo, Boris Johnson escreveu coisas que não andaram longe destas palavras do líder trabalhista, sobre a participação do Reino Unido na guerra do Iraque, recorda o Guardian. “A guerra no Iraque não criou o problema dos fundamentalistas islâmicos assassinos, embora a guerra tenha sem dúvida refinado os ressentimentos deste tipo de pessoas que vivem no nosso país, e lhes tenha dado novos pretextos. A guerra do Iraque não introduziu o veneno na nossa corrente sanguínea mas, sim, a guerra ajudou a potenciar esse veneno”, escreveu Johnson em 2005 na revista Spectator, pouco depois dos ataques terroristas contra o sistema de transportes de Londres.

Na verdade, vários políticos britânicos fizeram declarações questionando as ligações entre a guerra e o terrorismo, castigando a prontidão com que o Governo liderado pelo trabalhista Tony Blair se juntou a George W. Bush para invadir o Iraque, em 2003. Se isto quer dizer alguma coisa, na sondagem diária online da YouGov, 53% dos que participaram, de forma voluntária, concordaram com a posição de Corbyn.

O tema atravessa há mais de dez anos a política britânica. Em 2013, o conservador David Cameron perdeu a votação na Câmara dos Comuns, quando Barack Obama colocou a possibilidade de agir contra a Síria de Bashar Al Assad. 

“Taxa de demência”

Que efeito terá nas legislativas de 8 de Junho? Não é certo. Longe vão os 20 pontos de vantagem que Theresa May tinha quando convocou as eleições antecipadas, apostando num reforço do seu mandato para negociar o “Brexit”. Agora os conservadores têm 43% e os trabalhistas 38% das intenções de voto, embora May tenha uma imagem muito mais favorável do que Corbyn.

Mas a perda dos conservadores não terá a ver com o ataque terrorista de Manchester, explica Anthony Wells, director de investigação da YouGov, num blogue da empresa de sondagens. O que terá feito oscilar os pratos da balança, explica, foi a divulgação dos programas dos tories e do Labour, e a grande polémica em torno dos cortes na Segurança Social propostos pelos conservadores.

A ideia de obrigar os pensionistas que precisam de cuidados de saúde no domicílio, e que são proprietários das casas em que vivem, a pagar por esses cuidados, gerou escândalo. Afectaria aqueles que sofrem de Alzheimer – daí a alcunha de “imposto de demência" – enquanto os que têm cancro, e ficam internados, não seriam abrangidos. May teve de anunciar que seria estabelecido um limite para o que idosos seriam obrigados a pagar, face ao pânico de familiares e idosos.

O Institute for Fiscal Studies divulgou uma análise dos programas de ambos os partidos, em que conclui que nenhum deles estão a ser honesto com os eleitores, diz a BBC. Os conservadores trazem mais cinco anos de austeridade, apresentando como novas políticas que já estão em marcha, e os trabalhistas fazem promessas que representam enormes aumentos de impostos - como ensino superior sem propinas, até para estudantes estrangeiros (uma ideia que ajudou o partido de Corbyn a subir nas sondagens).

 

 

 

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