Macron ganhou contra Le Pen num debate que foi um combate

Em clima de alta tensão, o candidato centrista empenhou-se em desmascarar o discurso da líder da Frente Nacional, que mostrou as fragilidades. A incógnita é a forma como será interpretado este combate televisivo.

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Marine Le Pen e Emmanuel Macron não tiveram um debate presidencial: enfrentaram-se num combate de boxe televisivo em que os moderadores foram a almofada que absorveu os golpes, sem que conseguissem assumir o papel de árbitros. “Não diga asneiras” e “pare de dizer mentiras”, repetiu inúmeras vezes Macron a Le Pen, que mostrou a falta de preparação nos temas económicos, com que tentou mostrar que o seu rival seria a continuação de François Hollande.

“Podemos dar-lhe a volta que quisermos, e os seus amigos vão dizer o contrário em todo o lado. Mas Marine Le Pen não se mostrou ao nível esta noite”, comentou no Twitter o jornalista do Liberátion Dominique Albertini, que cobre a extrema-direita e a Frente Nacional.

Ou então foi Macron que não permitiu que a estrela da candidata da extrema-direita brilhasse, chamando-lhe “parasita do sistema” na cara. O ex-ministro da Economia do Governo de Manuel Valls, que concorre como independente — e a quem as sondagens davam 59% das intenções de voto, face a 41% para Le Pen, antes do debate —, apostou em mostrar as fragilidades da candidatura da sua opositora.

Mais do que confrontarem programas, os candidatos trocaram acusações e comentaram o projecto do outro. “Estamos à espera há longos minutos que a senhora Le Pen nos diga o que propõe para o mundo do trabalho e ela não diz nada. É a sua estratégia, só diz mentiras”, atacou Macron. Estava já cansado de ouvir a líder da Frente Nacional metralhar as suas propostas de reforma do mercado de trabalho — que travaram o apoio de Jean-Luc Mélenchon.

Perante a incapacidade dos dois jornalistas para moderar o debate, Macron e Le Pen lançaram-se numa discussão sobre a venda da empresa SFR, que a candidata da extrema-direita dizia ter sido autorizada por Macron, ex-ministro da Economia, e ele garantia não ter sido do seu tempo. Ela tentou confrontá-lo com citações, e ele disse-lhe que estava a confundir casos: “Está a falar da Alstom-General Electric. Conheço um pouco dos dossiers. É triste, está a mostrar a sua impreparação”, atirou-lhe.

Desestabilizar

Foi um jogo duro de desestabilização, em que Marine Le Pen apostou nos golpes indirectos e ataques laterais para minar a credibilidade do rival — a sua estratégia de campanha habitual —, em vez de tentar discutir em pormenor as suas próprias propostas. As suas palavras habituais para descrever o que propõe são “é muito simples” até “não é nada técnico, como o sr. Macron”.

Marine Le Pen promete baixar a idade de reforma para os 60 anos — desde que se tenha 40 anos de descontos — e baixar impostos. “Então digo que o seu projecto tem um programa escondido. Quando se baixam os impostos sem se baixarem as despesas, toda a gente entende o que tem de acontecer”, afirmou Macron. Le Pen apenas fez um sorriso muito aberto.

A candidata da extrema-direita tentou compensar as suas fragilidades ao falar sobre segurança e terrorismo, acusando Macron de não ter nada no seu programa para esta área — aproveitando uma declaração sua após o atentado em Paris na sexta-feira antes da primeira volta, em que disse que não ia inventar um programa do pé para a mão. Mas ele, de facto, tem propostas, e explicou que apenas queria dizer que não ia mudar tudo. “A luta contra o terrorismo será a minha prioridade”, prometeu, e atacou as ideias de Le Pen de fechar fronteiras e expulsar todas as pessoas que foram colocadas sob vigilância por suspeita de radicalização.

Sobre a Europa, o tom dos ataques sem discussão válida prosseguiu. “De qualquer forma, França vai ser dirigida por uma mulher, Marine Le Pen ou Angela Merkel”, atirou a candidata, lançando para a mesa afirmações sobre a União Europeia que distorcem a verdade. Sobre o euro, continuou a dizer que não quer bem sair, quer é voltar ao sistema que havia antes, quando havia uma moeda comum para as transacções bancárias, o ECU.

Macron manteve a tenacidade ao longo do debate para procurar mostrar a falta de solidez do discurso de Le Pen e a forma como esta usa temas laterais para boicotar a discussão. “A única lição que se tira daqui é que é tão impossível discutir com Marine Le Pen hoje como era com o seu pai, Jean-Marie Le Pen”, comentou no Twitter a jornalista do Le Monde Maryline Baumard.

Segundo uma primeira sondagem divulgada já depois do debate que muitos viam como decisivo para o desfecho destas presidenciais, Macron foi mais convincente para 63% dos que assistiram. A sondagem foi divulgada pela empresa de estudos de mercado Elabe.

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