No Egipto, Papa pede o fim da violência em nome da religião

Francisco visita o Cairo em altura de tensão e perseguição aos cristãos do Egipto.

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O grande imã da Al-Azhar, Amhed al-Tayeb, recebeu o Papa Francisco dr

O Papa Francisco chegou esta sexta-feira ao Egipto com uma missão de paz. “Vamos dizer mais uma vez um firme e claro ‘não!’ a todas as formas de violência, vingança e ódio levado a cabo em nome da religião e em nome de Deus”, disse Francisco numa conferência de paz realizada na mais alta instituição do islão sunita, a egípcia Al-Azhar, onde foi recebido pelo grande imã Ahmed al-Tayeb.

Francisco está 27 horas no Cairo numa viagem cheia de perigos – se a segurança física era uma preocupação, também no campo diplomático. No país, o Daesh tem apresentado os cristãos como as suas “presas preferidas” e o próprio Papa já foi caracterizado como um alvo do grupo terrorista. Há três semanas, dois ataques atingiram uma igreja e uma catedral no domingo de Ramos, fazendo 45 mortos, mas isso não demoveu o Papa de fazer a viagem, e de se deslocar sem um veículo blindado. Atravessou as ruas do Cairo num Fiat, de janelas abertas.

Por outro lado, a visita do Papa é um trunfo para o regime do Presidente Abdul Fattah al-Sissi, que manteve as ruas da capital altamente policiadas no fim-de-semana da visita papal (o fim de semana no Egipto é sexta e sábado). Sissi teve o apoio dos cristãos que se sentiam ameaçados pelo anterior governo da Irmandade Muçulmana, e é tido como o líder que mais tem feito gestos públicos de aproximação, participando em missas cristãs.

Mas, por outro lado, muitos outros cristãos dizem que o clima de impunidade para a violência e perseguição quotidianas continua – ainda recentemente, os muçulmanos que despiram uma mulher de 70 anos e exibiram-na pela rua (por suspeitas de que o seu filho teria tido uma relação com uma mulher muçulmana) foram identificados mas acabaram por não ser julgados, apesar das promessas. No Egipto, um homem cristão só pode casar com uma muçulmana se se converter ao islão (já o casamento entre um homem muçulmano e uma mulher cristã é possível).

Um país um pouco longe do slogan da viagem, “O Papa da Paz no Egipto da Paz”, mas Francisco continuou a bater na tecla lembrando o mandamento “não matarás”, recebido por Moisés no Monte Sinai, e argumentando que o único modo de lidar com a violência extremista é o diálogo. Tayeb disse, pelo seu lado, que os militantes tinham interpretado de modo “descuidado” e “ignorante” os textos religiosos e repetiu: “o islão não é uma religião de terrorismo”.

A visita do Papa ao Cairo também tem como objectivo melhorar as relações com os cristãos coptas (a esmagadora maioria dos coptas no Egipto são ortodoxos, e menos de 1500 católicos). A viagem deveria ser, disse Francisco antes de partir, “prova do meu afecto, conforto e encorajamento para todos os cristãos do Médio Oriente” .

 

 

 

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