“Fileira da gastronomia” vale 20% do PIB

“Do ponto de vista social e cultural, a gastronomia é um factor essencial para o país”, diz o ex-ministro Poiares Maduro. “Do ponto de vista económico falta potenciar as sinergias" entre vários sectores.

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Poiares Maduro: o país cada vez percebe melhor a necessidade de potenciar uma área económica aproveitando os recursos endógenos Miguel Manso

Quando estava no Governo de Pedro Passos Coelho como ministro do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro teve curiosidade de saber qual o valor económico daquilo a que chama a “fileira da gastronomia”. Um estudo sobre o assunto, encomendado pelo seu ministério, concluiu que, se somarmos as várias actividades com ligações à gastronomia (da agricultura à cerâmica), estas representam “mais de 20% do PIB”.

Poiares Maduro foi uma das pessoas que Ana Músico, organizadora do festival Sangue na Guelra, ouviu atentamente no seu esforço para ajudar um grupo de chefs a organizar ideias para um manifesto sobre a cozinha portuguesa. E nessas conversas o antigo ministro defendeu a sua ideia. “Do ponto de vista económico falta potenciar as sinergias entre estes vários sectores”, explica Poiares Maduro ao PÚBLICO. “Estamos a falar de áreas de actividade que muitas vezes não estão relacionadas e por isso não se potencial o valor acrescentado que daí pode resultar.”

Conta que durante a sua passagem pelo Governo tentou explorar algumas dessas sinergias, aproximando, por exemplo, os chefs portugueses dos produtores de carne de raças autóctones ou dos artesãos que fazem peças em barro que podem valorizar a apresentação dos pratos.

Além disso, continua, “do ponto de vista social e cultural, a gastronomia é um factor essencial para o país”. Sendo uma área que vem despertando um interesse cada vez maior, “pode ser simbólica para algo de que Portugal necessita muito: promover a criação e a inovação mas baseadas na tradição e na história.”

Por isso, defende, “o manifesto deve identificar muito claramente as mais-valias que quer promover, a cooperação e os efeitos de rede entre os diferentes actores, a valorização da tradição sem ter receio da inovação e da criatividade”. Lembra que outros países, como o Peru, criaram estratégias “para fazer da gastronomia o seu farol turístico e tiveram um impacto enorme”. Isso pode passar por coisas muito simples, como estabelecer que todas as embaixadas passem a usar obrigatoriamente produtos portugueses.

No passado talvez fosse difícil fazer avançar uma ideia como esta – “havia quase vergonha de promover a gastronomia como actividade económica, se um governo dissesse que ia promover um plano estratégico para a valorização da nossa gastronomia, provavelmente arriscava-se a ter artigos nos jornais a dizer que ‘esses senhores querem é comer bem’”. Hoje as coisas mudaram, acredita Poiares Maduro, e o país cada vez percebe melhor a necessidade de potenciar uma área económica aproveitando os recursos endógenos. “Isso é que pode ser diferenciador”, afirma. A.P.C.

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