Primeira morte por sarampo em anos põe vacinas na agenda

Há 21 casos confirmados pela DGS, a maioria são adultos e não vacinados. Jovem de 17 anos era de Sintra, um concelho que em 2014 tinha uma taxa de cobertura da vacinação de sarampo abaixo dos 90%

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Reuters

A morte de uma jovem nesta quarta-feira aos 17 anos, na sequência de uma pneumonia bilateral, foi a primeira em muitos anos provocada pelo sarampo. Vivia em Sintra, era estudante no ensino secundário na área de Humanidades, e tinha uma irmã mais velha e outra mais nova, contou ao PÚBLICO fonte próxima da família.

Não estava vacinada contra o sarampo. Segundo disse ao PÚBLICO a directora clínica do Hospital de Cascais, Eduarda Reis, a família justificou-o com o facto de a jovem, em criança, ter tido uma "reacção alérgica grave" a outra vacina.  

Terá sido depois de um fim-de-semana com amigos na zona da Serra da Estrela que os sintomas de febre apareceram, descreveu fonte próxima da família. A jovem foi às urgências do Hospital de Cascais, onde foi medicada. Quando a situação se agravou, dias depois, voltou àquela unidade hospitalar, onde lhe terá sido diagnosticada uma mononucleose.

Ficou internada entre os dias 26 e 29 de Março, segundo a directora do Hospital de Cascais, por “uma razão que não o sarampo” – a responsável não quis especificar se foi por causa de uma mononucleose. Terá sido por essa altura que foi contagiada com sarampo através de um bebé de 13 meses, que também não estava vacinado devido a um atraso por razões clínicas, adiantou a directora do hospital. As últimas informações são as de que a saúde do bebé estará estável.

Teve alta. E a 13 de Abril voltou, mais uma vez, a entrar no hospital e a ser de novo internada. “Não tolerava a alimentação, vomitava”, contou a directora.

Todos os amigos que viajaram com ela para a zona da Serra da Estrela terão sido contactados pelas autoridades de saúde para confirmar se tinham os boletins de vacinas em dia, contou a fonte anónima.

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A 15 de Abril chegaram os resultados das análises pedidas ao laboratório no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge a confirmar o diagnóstico de sarampo, ainda de acordo com a directora. A jovem foi transferida para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para ficar num quarto de isolamento especial, mas o seu estado agravou-se e, 24 horas depois, foi para o Hospital de D. Estefânia, acrescentou. 

A médica garantiu também que, quando saiu de Cascais para Lisboa, a jovem “não estava em risco de vida”. Saiu por causa da necessidade de um isolamento especial. Mas a situação agravou-se. Na unidade de saúde de Cascais foram contaminados seis doentes, dois deles pediatras.  

Ao PÚBLICO, a fonte próxima refere que a família diz que a jovem tem um problema grave de saúde. Terá tentado tratamentos convencionais, mas face a complicações de saúde a família procurava tratamentos alternativos. É descrita como reservada e discreta, falando pouco sobre as doenças que tinha.

Cascais e Sintra com menos de 90% de cobertura

Ontem, o caso voltou a colocar esta doença altamente contagiosa e o tema das vacinas na agenda. E, apesar de as autoridades não admitirem mais casos graves, dos 21 confirmados pela Direcção-Geral de Saúde (DGS), há 13 de adultos e sete de crianças. A maioria, 57%, não foi vacinada e está na zona da grande Lisboa. Há ainda sete casos no Algarve e um no Norte. Nove são profissionais de saúde, considerado um grupo de risco, sendo que dois deles não estavam vacinados.

Há mais de 20 anos que não se registava um surto desta doença em Portugal: o último foi em 1994 e levou a novas medidas de prevenção das consequências dos mais de três mil casos. Segundo Ana Leça, da Comissão Técnica de Vacinação da DGS, há dez anos que os casos de sarampo que apareciam em Portugal “eram importados” ou eram casos secundários e rapidamente controlados. Em 2012 houve um surto com várias mortes em França “e Portugal ficou incólume”, disse.

A DGS diz que a taxa de cobertura da vacina é de 95% para a primeira dose e de 98% para a segunda – a vacina deve ser dada aos 12 meses e aos cinco anos. De acordo com um relatório da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, em 2014 as taxas de cobertura da segunda dose em Cascais eram as mais baixas (apenas 83%). Em Sintra, a taxa também era inferior à média (89%). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define 95% de cobertura como garantia mínima para a imunidade de grupo.

A doença causou mais de 130 mil mortes em todo o mundo num só ano, em 2015.  

Logo de manhã, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes e o director-geral da Saúde, Francisco George apelaram à calma. George repetiu várias vezes que a situação não era preocupante e o ministro pediu para se confiar no Sistema Nacional de Saúde e para se seguirem as recomendações do Programa Nacional de Vacinas.

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