Dia de risco na Coreia do Norte com ameaça de ensaio nuclear

Dia nacional terá grandes comemorações e teme-se manifestação de força. EUA enviaram força naval para a região. Até onde irão Kim e Trump?

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Kim Il-Sung e Kim Jong-il, avô e pai do actual líder, Kim Jong-un HOW HWEE YOUNG/EPA

O aniversário do fundador da Coreia do Norte, Kim il-Sung, avô do actual líder, Kim Jong-un, está a ser visto como um dia de risco: o regime norte-coreano prometeu um acontecimento espectacular, e se há quem imagine que se trate de uma marcha ou um teste de um míssil convencional, há quem tema que o país se prepare para o que seria o seu sexto ensaio nuclear. Estão a formar-se "nuvens de tempestade", disse o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros.

Do lado dos Estados Unidos, Donald Trump disse que não permitira que uma acção destas passasse impune, e os recentes ataques dos EUA na Síria e Afeganistão dão força à sua ameaça. A deslocação de uma força naval e os exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul são vistos como “uma provocação” pelo Norte.

A China e a Rússia expressaram preocupação. Pequim foi quem mais falou: “Os Estados Unidos e a Coreia do Sul e a Coreia do Norte estão envolvidos em dente-por-dente, com espadas desembainhadas e arcos em tensão”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Wang Li.

“Pedimos a todos contenção para evitar danos irreversíveis à situação na Península Coreana”, disse o ministro. Quem não o fizer, avisou, “vai pagar o preço da História”.

A Rússia repetiu o pedido de contenção e disse estar a seguir os acontecimentos “com grande preocupação”. Media russos falavam em cálculos de cientistas militares russos segundo os quais um ataque que provocasse uma nuvem nuclear não chegaria a afectar o território nacional.

O Japão também tem planos de contingência para a saída dos seus cidadãos da Coreia do Sul e de preparação para a chegada de refugiados norte-coreanos ao país. “O ambiente de segurança à volta do Japão está mais duro”, disse o primeiro-ministro Shinzo Abe.

Há duas coisas a juntar-se este fim-de-semana, dizia na NBC James Stavridis, antigo comandante da NATO. “Uma é a séria possibilidade de uma sexta detonação nuclear e a outra é um ataque americano”.

Mas a Coreia do Sul, que teria de dar um aval a um ataque norte-americano – porque será o alvo da retaliação se este acontecer – declarou, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros Yun Byung-se que “os Estados Unidos estão a trabalhar para nos assegurar que não vão [atacar sem consultar Seul], só no caso de estarmos preocupados”.

Muitos analistas vêem o tom duro de Trump como um modo de pressionar a China: “Se a China não agir, os Estados Unidos fá-lo-ão”, tweetou o Presidente dos EUA. Uma abordagem “relativamente nova”, apontava o analista James Kim, do Instituto de Estudos Políticos Asan, em Seul, ao diário norte-americano Washington Post. “Sempre soubemos que todas estas opções [incluindo militares] existiam, mas ninguém foi nunca por esse caminho”.

De Pequim vieram medidas concretas em meados de Fevereiro, dificultando a importação de carvão da Coreia do Norte, uma importante fonte de rendimento para o país (o carvão representa um terço das exportações norte-coreanas segundo os dados oficiais). Nos primeiros três meses de 2017, as importações diminuíram 51,6%, segundo as autoridades chinesas.

A televisão chinesa anunciou esta semana que os voos de Pequim para Pyongyang tinham também sido suspensos pela Air China, embora a companhia chinesa tenha vindo depois dizer que não se tratava de uma suspensão total.

O grande grau de imprevisibilidade junta uma Coreia do Norte que tinha um modo de operar que consistia em levar a cabo provocações e depois esperar concessões quando desistia que mudou com um líder que parece empenhado no nuclear a todo o custo, e com um Presidente americano que em tempo recorde mudou a política externa americana e lançou ataques incluindo um na Síria - que ele próprio, quando ainda não era presidente, tinha pedido ao anterior presidente que não fosse feito.

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