Finalistas dizem que estragos foram resposta a "insultos" e falta de condições do hotel

Estudantes presentes na viagem de finalistas dizem que os estragos foram mínimos e que surgiram num acto de "revolta" contra a gerência do hotel. Psicóloga considera que comportamento dos jovens é “inadmissível”.

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Alunos garantem que o hotel não cumpria as condições a que se tinha proposto DR

Os finalistas acreditam que o hotel em que ficaram alojados exagerou na descrição dos estragos e dizem que eles é que foram maltratados. “Eu não vi colchões a voar da janela, não vi nada de exagerado como estão a dizer”, afirma Rita Gameiro, uma das estudantes da viagem de finalistas à cidade espanhola de Torremolinos. “A única coisa que vi foi uma parede escrita e coisas no elevador; houve estragos e coisas partidas mas é algo normal numa viagem de finalistas”, acrescenta a jovem de 17 anos, em relação à situação vivida este sábado no Hotel Pueblo Camino Real, no sul de Espanha.

“Os estragos foram mínimos”, concorda Miguel (nome fictício), um estudante do Porto que pediu para não ser identificado. Os dois estudantes contaram ao PÚBLICO que o hotel não cumpriu com as condições alimentares e de higiene a que se tinha inicialmente proposto. “Nada foi limpo, a comida era sempre a mesma, havia formigas e baratas no quarto e a segurança era apertada de uma forma exagerada”, conta Rita, aluna de 12º ano na Escola Filipa de Vilhena, no Porto.

Segundo disseram fontes policiais ao El País, os jovens terão quebrado azulejos, despejado extintores, atirado colchões pelas janelas e uma televisão para a banheira. “Era a primeira vez que o hotel estava a receber finalistas e devem ter achado aquilo exagerado”, considera Rita.

Os desacatos terão começado após um incêndio no "quarto de uma pessoa de Lisboa", que foi "o estrago mais grave”, afirma Miguel. “O dono do hotel quis tirar as cauções a todos porque houve uma parede que foi riscada. A partir daí, chamou a polícia, armou um aparato enorme e quis mandar tudo embora”, explica.

“Aí, sim, fizemos estragos no hotel. É verdade. No desenrolar da acção, após nos dizerem que não havia caução”, admite o finalista. “Se nos vão tirar o dinheiro pelos estragos que não fizemos vamos realmente fazer estragos. E aí os estragos foram feitos mas não são esses estragos exagerados de que falam”, afirma, acrescentando que os danos foram feitos na sequência da "revolta" e dos "insultos".

Miguel não concorda ainda com a vilipendiação a que os jovens estão a ser sujeitos: “Nas redes sociais está a passar a imagem de que os alunos destruíram o hotel completamente e isso não é verdade”. Também Maria do Carmo Gameiro, mãe de Rita, apela a que não sejam feitas generalizações. “Houve exagero? Houve. Mas não vamos pôr todos no mesmo saco”, diz. “Estão a criar uma ênfase tão grande nestes jovens quando isto acontece em todos os sítios”, afirma Maria do Carmo.

Miguel assegura que há “uma grande mentira em relação aos estragos”, já que o total das cauções entregues pelos alunos – no valor de 50 euros cada uma – ultrapassa em grande parte a estimativa de 50 mil euros de estragos feita pela polícia, que não considera justa. Mesmo excluindo os 12 euros que deverão ser devolvidos a cada aluno – “o valor que a agência conseguiu negociar”, explica. “Eu não estraguei nada e vou receber apenas 12 euros”, lamenta Rita.

Com a caução de 50 euros, os jovens pagaram mais de 600 euros pela viagem: aos 480 euros juntam-se outros 100 por um passe que garantia acesso a discotecas. 

Estudantes denunciam falta de condições

Na página de Facebook do Hotel Pueblo Camino Real, as críticas negativas vão aumentando. Os alunos queixam-se do mesmo: falta de condições no que toca à limpeza dos quartos e à fraca qualidade do serviço e da comida apresentada. “Não deixavam fazer festas nenhumas e as funcionárias do hotel entravam nos quartos sem autorização”, considera Rita Gameiro. “O hotel não tinha condições. Não faziam a cama e a comida era sempre a mesma”, concorda Miguel.

Em relação à expulsão, Rita Gameiro explica que não foram expulsos mas sim informados pela gerência do hotel que teriam de sair mais cedo. Havia dois grupos: um que ficaria seis noites e outro ficaria sete. No último dia, Rita e os colegas tiveram de fazer as malas 12 horas mais cedo do que o previsto. Já os alunos que iriam permanecer sete noites acabaram por ficar menos um dia do que o esperado. “Não houve uma expulsão. Apenas houve um adiantar do check out”, explica Miguel.

“Tentámos falar com o dono do hotel mas ele ameaçou-nos e disse que ia rasgar as reclamações, disse que não queria saber de nada”, afirma Rita. “Fui provocado e insultado pelo dono do hotel”, garante Miguel, “e ele dizia que os portugueses eram mal-educados e que eram uma merda”. Os dois estudantes elogiaram fortemente a agência de viagens Slide In, que tudo fez para os auxiliar. O PÚBLICO tentou contactar a agência mas não obteve resposta.

Por sua vez, a gerência do hotel prestará esclarecimentos adicionais numa conferência de imprensa marcada para esta segunda-feira.

Comportamentos são “frequentes mas não normais”

“Este tipo de comportamento é inadmissível”, diz ao PÚBLICO a psicóloga educacional Sónia Seixas. “Há uma coisa que temos de esclarecer: aquilo que é normal e aquilo que é frequente. Que eles considerem que é frequente, é verdade. Mas não pode ser considerado normal”, adianta.

Este tipo de situações torna-se difícil de prevenir. “Tem a ver com estilos educativos e não só”. Independentemente da boa educação que os jovens possam ter, existem vários "factores facilitadores" nesta equação: as questões hormonais, a influência de grupo e o possível efeito de álcool e substâncias psicoactivas.

Mesmo que os estudantes tenham sido insultados pela gerência do hotel, isso não deve servir de justificação. É o que pensa Sónia Seixas, que acredita que as respostas têm de ser adequadas: “Em resposta a um insulto, quando muito, responde-se com outro insulto”. Além disso, diz que os insultos por parte do hotel devem ter tido uma razão de ser.

Ainda assim, no meio de toda a confusão, a psicóloga aceita que existam jovens injustamente acusados. “Acredito que nem todos o tenham feito mas também houve muitos que fizeram. E é muito difícil para os funcionários de um hotel conseguir distinguir quem fez o quê”, conclui. 

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