Quatro mitos que não o ajudam a emagrecer

Hoje em dia, tentar encontrar informação credível na Internet sobre alimentação assemelha-se a tentar beber água de uma boca de incêndio. Para emagrecer, há vários caminhos que se podem percorrer.

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Para quem falha a premissa de que “corpos de Verão constroem-se no Inverno”, está oficialmente aberta a época de “corrida às dietas”. E, como nesta altura existem sempre mentiras que de tantas vezes contadas correm o risco de serem vistas como verdades, aqui ficam alguns conselhos pelos quais nunca se deve deixar levar:

Não pode colocar batata ou mais do que três legumes na sopa

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Vamos a factos: 100 gramas de batata cozida (que ainda é uma quantidade substancial) possuem 85 kcal, um pouco menos que 1 colher de sopa (10g) de azeite. Ou seja, de nada valerá ter demasiado cuidado com a batata se depois existir uma mão pesada que transforme um “fio” num “rio” de azeite. Como a sopa se quer uma fonte de fibras e vitaminas mais do que de hidratos de carbono, faz ainda assim todo o sentido preferir o feijão e o grão em vez da batata.

Todavia, restringir o número de legumes/hortaliças lá existentes não faz o mínimo sentido, bastando para isso dizer que seriam necessárias cerca de 300/400g destes para chegarmos às mesmas calorias da colher de azeite acima falada. Interessante seria aproveitar esta regra para limitar a três o número de peças de fruta que se adicionam a muitos smoothies ou batidos detox, esses sim potencialmente demasiado calóricos e açucarados.

É imperativo cortar os hidratos de carbono a partir das 18h

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É verdade que durante a noite a resistência à insulina é maior e que se ingerirmos a mesma refeição às 20h00 os nossos níveis de glicemia e insulina ficam mais elevados do que se ela for ingerida às 8h00. Também é importante reconhecer que se há algo que melhora a sensibilidade à insulina é o treino e uma alimentação que promova níveis de massa gorda e sobretudo gordura visceral adequados. Como tal, mesmo pensando exclusivamente neste parâmetro, há muita coisa hierarquicamente acima da existência ou não de hidratos de carbono à noite.

Cortar os hidratos de carbono à noite resulta numa redução da ingestão de calorias, e como todas as estratégias que atinjam esse fim, pode resultar (desde que não se duplique a quantidade de carne/peixe no prato, não se afoguem os legumes em azeite, nem esta refeição “desconsolada” descambe em doces no pós-jantar). Ainda assim, não existe a mínima evidência de que os hidratos de carbono à noite sejam mais “engordantes” do que se consumidos noutra altura do dia, e mais importante do que isso (até porque se comem alimentos e não nutrientes), é reconhecer padrões de consumo que, esses sim, estão associados ao ganho de peso. E a este nível os snacks pós-jantar são de facto terríveis, principalmente quando ao açúcar se associa a gordura e é difícil parar de comer.

Como para grandes males são necessários grandes remédios, mais do que retirar ou não o arroz/massa/batata do prato, convém não ter no armário bolachas, batatas fritas, bolos, chocolates, pizzas, refrigerantes e todos os outros que não saiam do seu pensamento nem o deixem concentrar quando está no sofá a descansar do seu dia de trabalho.  

Não pode comer nada antes de ir para a cama

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É uma recomendação controversa que depende de muitos factores, entre os quais: qual a distância da hora de jantar até à hora de deitar, que refeições foram feitas ao longo do dia e a que hora foi feito o treino (se é que ele existiu). Num contexto onde exista uma distância considerável entre a hora de jantar e deitar e onde o treino é feito ao final do dia, faz todo o sentido fazer uma refeição com uma boa quantidade de proteína antes de deitar de modo a evitar algum catabolismo muscular durante a noite. Ainda assim, para esta estratégia ter resultado, é preciso ter espaço para esta ceia, o que implica eventualmente comer menos nas outras refeições anteriores do dia.

Por outro lado, se o treino ao final do dia já o faz jantar tarde e com pouco tempo de intervalo até ir para a cama, não precisa de se empanturrar de proteína, nem esta proteína tem obrigatoriamente de ser um suplemento de caseína. Parece que há um alimento “proibido” ou “venenoso” que possui simultaneamente caseína (uma proteína com absorção mais lenta e mais benéfica para consumir antes de deitar) e cálcio (que pode ajudar na oxidação de gordura). Saber aplicar as descobertas dos estudos científicos em recomendações para o quotidiano é uma missão que requer bom senso.

Tem de comer sempre “limpo” para emagrecer

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Convém, mas não é obrigatório. Ter uma dieta flexível implica saber que há alturas para tudo. Uma semana alimentar e de treino perfeita de 2.ª à 6.ª pode (e deve) terminar com uma ou outra “asneira” ao fim-de-semana. Por exemplo, os flocos de aveia possuem exactamente as mesmas calorias que outros cereais mais açucarados. Esta troca embora nos dê menos fibra e proteína e mais açúcar não faz com que o aporte de calorias seja maior e por isso é um guilty pleasure que não compromete os objectivos. Aliás, estas asneiras desejam-se mais ricas em açúcares do que em gordura, pois para além de o açúcar ser menos calórico, pode inclusive aumentar algumas hormonas benéficas na saciedade e composição corporal que andam meio “deprimidas” durante a semana (ou seja, mais vale guardar-se para a sobremesa doce do que perder a cabeça nas entradas salgadas).

Também é inegável considerar que manteiga de amendoim, abacate, azeite, salmão, nozes e companhia (amêndoas, avelãs, castanha Pará, etc.) são alimentos saudáveis, mas que dado o seu grande teor em gordura e consequentemente calorias, são igualmente muito calóricos. Como tal, quando excessivamente consumidos, estes alimentos também podem engordar, por mais romântico que pareça o seu consumo.

Conclusão: Hoje em dia, tentar encontrar informação credível na Internet sobre alimentação assemelha-se a tentar beber água de uma boca de incêndio. Para emagrecer, há vários caminhos que se podem percorrer. Não aceitar passivamente as (in)verdades abordadas neste artigo, ajuda a ter mais variedade e menos monotonia nesse processo.

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