Barnier, o "homem de confiança" da UE que irrita os britânicos

Antigo comissário europeu foi catalogado como "o homem mais perigoso da Europa". O experiente político francês quer batalhar por um acordo amigável.

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Nestas negociações vamos ser justos, mas firmes na defesa dos nossos interesses", diz Barnier Olivier Hoslet/EPA

Michel Barnier é experiente, respeitado, um europeísta fervoroso e um político com longo currículo em negociações difíceis. Mas é também um dos ódios de estima dos tablóides britânicos – a começar pelo facto de ser francês – e em mãos tem aquela que promete ser uma das mais árduas tarefas da história da UE: negociar um acordo com o Governo britânico, mantendo intacta a unidade dos restantes 27 Estados-membros.

O Politico escrevia que “Theresa May poderia ter piores inimigos” do que Michel Barnier, “o papão do Brexit”, sublinhando que o ex-comissário europeu para o Mercado Interno e Serviços Financeiros (2010-2014) foi muito mais conciliador com a City londrina do que o rótulo de “homem mais perigoso da Europa” faria supor.

A alcunha foi uma cortesia do Telegraph numa altura em que Barnier, após a crise de 2008, batalhava para impor uma regulação mais apertada ao sector financeiro e limites aos bónus dos banqueiros. Pelo contrário, nota o Politico, o francês “quis sempre garantir que as reformas e o reforço da integração da zona euro não acabavam por marginalizar o Reino Unido”. Ainda assim, quando em Julho o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o nomeou para chefiar as negociações em nome da UE os jornais britânicos voltaram a indignar-se: a sua nomeação “como homem de ponta para o ‘Brexit’ é um acto de guerra”, escreveu um colunista do Sunday Times.

Mas Barnier – um gaulista desde a juventude, que não frequentou as mesmas escolas da elite francesa, e começou a carreira política na sua Sabóia natal antes de ocupar diversos ministérios no Governo em Paris – é tido em Bruxelas e na maior parte das capitais europeias que visitou durante os últimos meses como um “homem de confiança”, um político que conhece a fundo algumas das áreas mais sensíveis das negociações que se avizinham (foi ministro da Agricultura e numa primeira passagem pela Comissão Europeia, entre 1999 e 2004, foi responsável pela Política Regional e Reformas Institucionais).

Nos últimos meses juntou uma impressionante task-force com alguns dos mais experientes funcionários da Comissão – para adjunta nomeou a alemã Sabine Weyand, que foi “número dois” do Departamento de Comércio – e tem ao seu dispor milhares de técnicos e consultores das instituições europeias. Mas se as suas armas superam em muito as dos britânicos, Barnier tem não só de prestar contas a muitos mais governos, como navegar entre a sempre difícil convivência entre instituições europeias – é o Conselho quem tem a responsabilidade máxima sobre as negociações, mas o Parlamento faz questão de lembrar que tem o poder de vetar o acordo final. Pela sua parte, e apesar das convicções federalistas, Barnier promete batalhar por um divórcio o mais amigável possível. Mas num artigo que escreveu esta semana para o Financial Times não podia ser mais claro: “Nestas negociações vamos ser justos, mas firmes na defesa dos nossos interesses enquanto uma união de 27 Estados-membros”. 

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