Há mais alunos salvos do chumbo quando se aposta na auto-estima e nas relações na escola

Programa Mediadores para o Sucesso Escolar aposta no "reforço das competências não-cognitivas dos alunos abrangidos”, tais como a auto-estima, a motivação e o bom relacionamento com colegas, professores e familiares.

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Programa da EPIS abrange cerca de 3700 alunos do 3.º ciclo de escolaridade Paulo Pimenta

Entre 2014 e 2016, o programa Mediadores para o Sucesso Escolar, promovido pela EPIS- Empresários para a Inclusão Social, diminuiu em 14% a probabilidade dos alunos que foram apoiados chumbarem no 3.º ciclo de escolaridade.

Esta é a principal conclusão do estudo de avaliação feito ao programa que foi realizado pelo especialista em educação Pedro Martins, do Queen Mary University of London. Os resultados são apresentados publicamente na manhã desta quinta-feira.

Os alunos apoiados pelos Mediadores para o Sucesso Escolar estão em risco de insucesso e abandono escolar. Pedro Martins analisou o desempenho de cerca de três mil alunos de 55 escolas públicas. Deste universo 2311 participavam no programa, enquanto os outros 648 tinham sido sinalizados também como estando em risco, mas não tiveram acompanhamento. Foi a comparação do desempenho dos dois grupos que levou à conclusão de que os alunos integrados no programa do EPIS têm mais probabilidade de não reprovar do que os outros.

Em estudo esteve, sobretudo, a não reprovação nos dois anos lectivos abrangidos pela análise – 7.º e 8.º anos ou 8.º e 9.º anos. Do universo seleccionado, que inclui os dois grupos, 43,6% dos alunos transitaram os dois anos e 80,6% passaram pelo menos num dos anos. Nesta análise revela-se ainda que houve um aumento de cerca de 80 jovens apoiados que não reprovaram nos dois anos em análise, o que, refere-se, se traduziu numa poupança para o Estado de 400 mil euros.  

Para o apuramento deste valor considerou-se que, por ano lectivo, cada aluno custa ao Estado 5000 euros. Este é um dos valores que têm sido apontados pelo Conselho Nacional de Educação, embora não exista até hoje um cálculo oficial desta despesa.

Em média, os jovens seleccionados para esta análise rondavam os 14 anos em Setembro de 2014, sendo 47% raparigas. Cerca de metade frequentava então 7.º ano e a outra metade estava no 8.º.  Deste conjunto 13,7% estavam em cursos vocacionais, que se destinavam a alunos a partir dos 13 anos com duas ou mais retenções.

Segundo o investigador Pedro Martins, a metodologia adoptada pela EPIS “é inovadora tanto em termos nacionais, como internacionais” por dirigir o seu foco para “o reforço das competências não-cognitivas dos alunos abrangidos”.

Estas competências, lembra, incluem aspectos como auto-estima, a motivação e o bom relacionamento com colegas, professores e familiares, entre outros. “Níveis baixos destas competências estão fortemente associados a jovens em maior risco de insucesso escolar e/ou com percursos escolares mais associados a retenções”, frisa.

A selecção dos alunos para o programa Mediadores para o Sucesso Escolar passa por um trabalho de identificação daqueles que estão em maior risco de insucesso escolar futuro. Este trabalho é feito nas escolas participantes e tem na base não só o desempenho escolar dos alunos, mas também o seu contexto sociofamiliar.

O programa, que é apoiado pelo Ministério da Educação, abrange actualmente 3729 alunos de 179 escolas públicas e tem 183 mediadores, que, de duas em duas semanas, acompanham os estudantes individualmente ou em pequenos grupos 

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