Como o divertido vídeo viral da BBC evoluiu para uma discussão séria sobre racismo

Marido e mulher ou patrão e empregada? A maioria das pessoas que viu o vídeo viral das crianças que interromperam um comentário em directo para a BBC achou que uma mulher asiática não podia ser a mãe das crianças de um homem branco.

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Na sexta-feira, o vídeo de um especialista em política sul-coreana a ser interrompido pelos filhos enquanto falava em directo para a BBC tornou-se viral nas redes sociais. O episódio durou menos de um minuto, mas o momento caricato em que as crianças entram no escritório e o contraste da mulher que tenta desesperadamente retirar os filhos com a postura séria e imóvel do professor Robert Kelly perpetuaram-se em partilhas e comentários.

Entre os comentários que sugeriam uma outra reacção de Kelly - ora que deveria ter interrompido a entrevista, ora que não deveria ter afastado a filha - emergiu outro debate a merecer destaque: publicações como a  Time – e a maioria das pessoas que comentavam o vídeo -, assumiram que, por ser asiática, a mulher que aparece no vídeo não seria a mãe das crianças, mas apenas a babysitter. Entre as interpretações, alguns concluíram imediatamente que Jung-a-Kim estaria assustada por ter medo de perder o emprego.

O que começou por ser mais um momento viral na internet evoluiu para uma discussão sobre casais inter-raciais e os preconceitos que ainda existem, levando grande parte das pessoas a encarar casais de diferentes nacionalidades com cepticismo. Ou seja, que se um homem branco e uma mulher asiática aparecem juntos, presume-se que se trata de patrão e empregada e não de marido e mulher.

“As mulheres asiáticas são vistas com o estereótipo de servis, passivas, como com o perfil para tarefas ligadas a prestação de serviços. As pessoas são rápidas a saltar para essa conclusão”, analisa Phil Yu, autor do blogue Angry Asian Man, em entrevista ao Los Angeles Times.

Em 2015, a apresentadora da NBA Countdown, Sage Steele, filha de mãe irlandesa e italiana e de pai afro-americano escrevia um artigo para a revista People onde partilhava a sua própria experiência maternal, fruto de um casamento com um caucasiano. Steele conta que, por várias vezes – mais do que as que preferia contar – as pessoas assumiram que não era mãe das crianças e que seria a babysitter.

Como a BBC cita, o preconceito é uma “rua de dois sentidos”. O exemplo é dado através de Andrew Wood, um jornalista do canal britânico, que conta que, nos dois anos em que viveu na Coreia do Sul, tinha dificuldades em conseguir voltar de táxi para casa, uma vez que os motoristas assumiam que, por ser caucasiano, seria um soldado norte-americano, e que por isso iria vomitar no carro (aqui, o estereótipo é o do norte-americano embriagado e mal-educado).

Um outro exemplo referido pela BBC é o testemunho de Tiffany Wong, uma mulher asiática que namora com um homem britânico, de traços caucasianos, e que se sente discriminação quando assumem que o namorado (e noivo) é sempre o asiático do grupo de amigos.

Robert Kelly está desde 2008 a viver na Coreia do Sul, onde conheceu Jung-a-Kim, contou a mãe do professor ao Daily Mail. Ellen Kelly contou ainda que a família costuma utilizar aquela sala para telefonemas via Skype, o que terá levado as crianças a pensar que seria mais uma conversa com os avós, levando à interrupção que se tornou viral.

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