Nomeados para Óscar de Melhor Filme Estrangeiro lamentam “clima de fanatismo”

Comício anti-Trump substituiu a festa pré-cerimónia e contou com uma mensagem vídeo do iraniano Asghar Farhadi.

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Aconteça o que acontecer no domingo, Farhadi não irá levantar a estatueta em Hollywood Reuters

Ainda não sabem quem vencerá o Óscar, mas os realizadores nomeados na categoria de Melhor Filme em língua estrangeira quiseram já dedicar o prémio que será conhecido domingo em Hollywood “a todas as pessoas, artistas, jornalistas e activistas que trabalham para promover a unidade e o entendimento, e aos que apoiam e fazem cumprir a liberdade de expressão e a dignidade humana – valores cuja protecção é mais importante do que nunca”.

Estes são tempos diferentes, sublinham numa declaração conjunta o dinamarquês Martin Zandvliet (Land of mine), o sueco Hannes Holm (A Man called Ove), a alemã Maren Ade (Toni Erdmannn), os australianos Martin Butler e Bentley Dean (Tanna), e o iraniano Asghar Farhadi (O Vendedor). “Em nome de todos os nomeados, queremos expressar a nossa desaprovação unânime e enfática face ao clima de fanatismo e nacionalismo que vemos hoje nos Estados Unidos e em tantos países, em partes da população e, mais infelizmente ainda, entre os líderes políticos”, escrevem os cineastas.

Farhadi já anunciara que não iria à cerimónia em protesto contra a ordem executiva do Presidente americano, Donald Trump, que poucos dias depois da tomada de posse, em Janeiro, suspendeu a entrada nos EUA de cidadãos de sete países muçulmanos, incluindo o seu Irão.

O alvo dos cineastas são todos os líderes que promovem um discurso nacionalista e apresentam o “estrangeiro” como “outro”, “diferente”, “indesejado”, precisamente o contrário do que eles dizem ser o “poder do cinema” – um meio “que permite como nenhum outro uma viagem profunda até às circunstâncias das outras pessoas, capaz de transformar sentimentos de estranheza em curiosidade, empatia e compaixão, mesmo em relação aos que nos disseram ser os nossos inimigos”.

“O medo gerado quando somos divididos em géneros, cores, religiões e sexualidades como forma para justificar a violência destrói aquilo de que dependemos – não só como artistas mas enquanto seres humanos: a diversidade de culturas, a oportunidade de sermos enriquecidos por algo aparentemente ‘estrangeiro’ e a crença no poder dos encontros humanos nos mudarem para melhor”, lamentam. Estes “muros de divisão”, dizem, são o que impedem “as pessoas de experimentar algo simples mas fundamental, a descoberta de que não somos assim tão diferentes”.

Por tudo isto, os nomeados deste ano para Melhor Filme em língua estrangeira recusam “pensar em termos de fronteiras”. Por acreditarem que “não há melhor país, melhor género, melhor religião ou melhor cor”, querem que o Óscar “seja um símbolo da unidade entre as nações e da liberdade nas artes”.

Nos EUA de Trump, a habitual festa pré-Óscares organizada pela United Talent Agency foi substituída por um comício onde actores como Jodie Foster e Michael J. Fox criticaram “a crescente intolerância e falta de compaixão e empatia”. Farhadi, que em 2012 já venceu o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro (A Separação) participou no comício através de uma mensagem vídeo exibida no palco. Foster, que costuma manter-se à margem de polémicas políticas, explicou que este “é um tempo singular na história, tempo de nos envolvermos” e pediu que não se esqueça que no centro da indústria do cinema está “o humanismo”.

Fox nasceu no Canadá e é um cidadão americano há 20 anos. Participou no comício em Los Angeles para dizer que deseja “partilhar um pouco da sorte” que tem e que têm todos os que ali se juntaram com os refugiados que tentam entrar nos EUA. A medida de Trump, entretanto bloqueada pela justiça, suspendeu a entrada de todos os refugiados no país durante quatro meses (e dos sírios por tempo indeterminado).

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