Ana Gomes insiste nas críticas à zona franca da Madeira

Eurodeputada socialista reage às críticas do PS e do CDS, dizendo que não quer acabar só com o centro de negócios madeirense, mas sim com todos os espaços semelhantes que existem.

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Ana Gomes é eurodeputada do PS Nuno Ferreira Santos / PUBLICO

Apesar das críticas do PS-Madeira, do artigo de opinião assinado quinta-feira por Nuno Melo, dos protestos do governo regional madeirense, Ana Gomes não recua um milímetro, não altera uma vírgula. “Eu não quero acabar com a zona franca da Madeira. Quero acabar com todos os espaços de fiscalidade preferencial que existem no mundo, a começar pelos da União Europeia”, sublinha ao PÚBLICO a eurodeputada socialista que, esta semana, entregou um relatório bastante crítico sobre o Centro Internacional de Negócios da Madeira (CINM) na comissão de inquérito que está a analisar os Panama Papers no Parlamento Europeu.

O documento, no qual Ana Gomes conclui que a praça madeirense é “extremamente vulnerável” à lavagem de dinheiro e fraude fiscal, mereceu a “absoluta repulsa” dos socialistas madeirenses. Carlos Pereira, líder do PS local, lamentou a “abordagem negativa”, alertando que o expediente de Ana Gomes é contrário ao interesse nacional.

“Esta não é a posição da direcção nacional do PS, nem a posição do grupo parlamentar socialista no Parlamento Europeu”, clarificou Carlos Pereira. Mas é o de Ana Gomes. A vice-presidente da referida comissão de inquérito explica que já tinha o relatório concluído, entregando-o depois de terem sido divulgadas as informações sobre o CINM por um consórcio internacional de jornalistas.

“Foram informações que eu fui compilando para mim e, quando a investigação jornalística foi publicada, considerei importante passá-las aos restantes membros da comissão de inquérito”, explicou a parlamentar, insistindo que nada a move contra a Madeira em particular. “Na próxima semana vou estar em Malta, precisamente para me inteirar do funcionamento do centro de negócios local”, exemplifica, dizendo que teve o cuidado de não utilizar a expressão “offshore” em relação à Madeira, embora na prática seja essa a realidade da zona franca.

“Não está em causa o enquadramento legal, mas sim as aplicações práticas do que ali acontece”, diz, argumentando que não pode combater os paraísos fiscais e fingir que não tem um em casa.

O relatório foi também criticado pelo eurodeputado do CDS Nuno Melo, colega de Ana Gomes na mesma comissão, num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias. O eurodeputado centrista, que refere umas alegadas ligações de José Sócrates aos Panama Papers, ficou sem resposta, mas a Carlos Pereira a socialista deixa uma farpa. “Já esperava essa reacção, até porque o senhor deputado já foi funcionário da SDM”, diz Ana Gomes, referindo-se à Sociedade de Desenvolvimento da Madeira, a empresa público-privada que é concessionária da zona franca.

O governo regional da Madeira também acusou Ana Gomes de abordar o tema da zona franca com "ligeireza", numa "tentativa de protagonismo pessoal".

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