Sem apresentar provas, Trump acusa imprensa de esconder atentados terroristas

O porta-voz da Casa Branca afirmou que declarações do Presidente foram "muito claras".

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Reuters/CARLOS BARRIA

Donald Trump afirmou esta segunda-feira que a comunicação social americana não relata ou, em alguns casos, não quer noticiar atentados terroristas na Europa.

“Vocês viram o que aconteceu em Paris e em Nice. Por toda a Europa, está a acontecer”, afirmou, citado pelo Washington Post, perante uma assistência composta por líderes militares, na base da Força Aérea de MacDill, na cidade de Tampa. “Chegou-se a um ponto que nem sequer está a ser relatado. Em muitos casos a imprensa muito, muito desonesta não quer relatá-lo. Eles têm as suas razões, e vocês compreendem isso”.

Confrontando com a supreendente declaração do Presidente dos EUA, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, repetiu que foram palavras “muito claras”.

Nem Spicer nem Trump deram exemplos de ataques terroristas que não terão sido noticiados, mas o porta-voz disse que a Casa Branca revelará uma lista "mais tarde".

O porta-voz da Casa Branca comparou também a cobertura que tiveram os protestos que se espalharam um pouco por todo o país desde que o republicano foi eleito com aquela dedicada a alguns atentados terroristas. 

Numa reacção às declarações de Trump, o jornalista Chris Cillizza escreveu no Washington Post que este ataque do Presidente dos EUA “é muito, muito perigoso”. “Para muita gente que ouve Trump, a sua acusação de que os media são cúmplices a esconder ataques terroristas vão ser vistas como um facto”, analisa Cillizza, argumentando que essas pessoas “não vão procurar o contexto ou as provas”. “Uma vez que acreditam que os media são maus/tendenciosos, vão simplesmente tomar como um facto que os media estão a boicotar os esforços do Presidente para manter o país seguro.”

Os comentários de Trump surgem depois de na passada sexta-feira a conselheira do Presidente, e uma das estrategas da sua campanha eleitoral, Kellyanne Conway, ter mencionado, numa entrevista, um massacre perpetrado por dois cidadãos iraquianos na cidade de Bowling Green, no estado de Kentucky, para justificar a decisão do Presidente de proibir a entrada nos Estados Unidos de cidadãos provenientes de sete países maioritariamente muçulmanos. Só que o “massacre de Bowling Green” nunca existiu.

Não é de agora que Donald Trump tem a imprensa como um dos seus alvos preferenciais. Durante a campanha eleitoral, o agora Presidente dos EUA disse que os jornalistas estavam “entre as pessoas mais desonestas no mundo” (algo que repetiu já como líder dos EUA, numa visita à sede da CIA). Mais recentemente, no início do mês de Janeiro, e na primeira conferência de imprensa que realizou desde as eleições de Novembro, Trump recusou-se também a responder às perguntas de um jornalista da CNN, classificando a estação como uma “organização terrível” e acusando-a de emitir “notícias falsas”. Já esta segunda-feira, e na sequência da notícia do New York Times que dá conta de um aumento da fricção e desentendimentos no seio da Administração devido às recentes decisões do Presidente, Trump escreveu no Twitter que o jornal inventa histórias e fontes: “O incapaz New York Times escreve ficção total sobre mim. Eles estiveram errados durante dois anos, e agora estão a inventar histórias e fontes”.

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