Obama recusa perdoar Snowden por fugas graves de informação

“Snowden fugiu para os braços do adversário", diz a Casa Branca, e cometeu crimes mais graves do que Chelsea Manning, cuja pena foi comutada pelo Presidente Obama.

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Edward Snowden BRENDAN MCDERMID/Reuters

Horas depois da decisão do Presidente dos EUA de reduzir a pena de Chelsea Manning, condenada a 35 anos de prisão por passar documentos confidenciais à WikiLeaks, a Rússia prolongou “por mais um par de anos” a “residência de Snowden”. Há vários apelos para que Edward Snowden, outro denunciante de práticas ilícitas dos EUA, seja objecto de um perdão nas últimas horas de presidência de Barack Obama, mas a Casa Branca diz que há “uma diferença bastante forte” entre os dois casos.

Na sexta-feira, no encontro com a imprensa na Casa Branca, o porta-voz da Administração Obama, Josh Earnest, respondeu aos jornalistas que o questionavam sobre se Snowden seria alvo de um perdão que embora os crimes cometidos por ambos sejam similares, “há algumas diferenças importantes”.

“Chelsea Manning é alguém que passou pelo processo de justiça militar criminal, foi exposta ao devido processo legal, foi considerada culpada, foi sentenciada pelos seus crimes e reconheceu a sua infracção”, frisou Earnest. Que prosseguiu, citado pelo New York Times, que “Snowden fugiu para os braços do adversário, procurou refúgio num país que recentemente fez um esforço concertado para minar a nossa confiança na nossa democracia”.

Edward Snowden, ex-analista informático que trabalhou para a Agência Nacional de Segurança norte-americana (NSA na sigla original), tornou pública documentação que revelou programas de vigilância maciça e ilegal a cidadãos em todo o mundo por parte de agências de serviços secretos norte-americanas. Está exilado na Rússia desde 2013, onde agora poderá ficar mais anos segundo a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russos, Maria Zakharova, que o disse nesta quarta-feira através do Facebook. Os documentos que Manning passou ao WikiLeaks “danificaram a segurança nacional” norte-americana, classificou Josh Earnest, mas “os divulgados por Snowden eram muito mais graves e muito mais perigosos”.

O norte-americano reagiu já à redução de pena de Chelsea Manning, agradecendo-lhe no Twitter. “Daqui a cinco meses, estarás livre. Obrigado pelo que fizeste por todos, Chelsea. Mantém-te forte mais um pouco!... Diga-se honestamente e com bom coração: obrigado, Obama… A todos os que fizeram campanha pelo perdão a Manning nestes últimos duros anos, obrigado. Vocês fizeram isto acontecer.” 

Entretanto, a Amnistia Internacional, a American Civil Liberties Union, Human Rights Watch, Demand Progress e CREDO Action uniram-se numa petição para pedir a Obama que perdoe Snowden. A Amnistia Internacional Portugal vai entregar a sua petição, com 60 mil assinaturas de portugueses, a uma delegação da embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, composta pelo conselheiro político Gregory Macris e pela assessora para os assuntos políticos Georgina Félix, às 11h.

A Reuters lembra também que 15 antigos integrantes da comissão Church, que nos anos 1970 liderou uma investigação do Congresso dos EUA às actividades ilegais da CIA e de outras agências de serviços secretos norte-americanos, pediram já a Barack Obama que termine o “exílio insustentável” de Snowden na Rússia. Barack Obama deixa a presidência esta sexta-feira, dia 20 de Janeiro.

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