Modi quer aplicar o modelo de Gujarat mas a Índia pode ser demasiado grande

Depois de décadas de proteccionismo económico, os indianos escolheram Modi para promover as reformas que aplicou durante anos no seu estado.

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Narendra Modi durante um comício em Novembro de 2015 Reuters/DANISH ISMAIL

Quando Narendra Modi chegou ao poder, em 2014, os indianos optaram pela mudança. Para trás ficava uma era de hegemonia do Congresso Nacional Indiano, a nível nacional, marcada pela dinastia Gandhi-Nehru. A sua vitória significou a chegada ao poder do nacionalismo hindu defendido pelo partido Barathiya Janata (BJP), mas o voto dos indianos foi motivado sobretudo pela carteira.

Modi venceu, em parte, por causa do desenvolvimento económico que o estado de Gujarat conheceu durante os anos em que o governou, entre 2001 e 2014. Foi durante esta época que o estado na costa ocidental se tornou num dos mais industrializados, num país onde até há pouco tempo a agricultura representava um factor determinante da economia. Este estado representa 7,6% do PIB global da Índia, é responsável por 22% das exportações e tem a mais baixa taxa de desemprego. Durante os 13 anos em que Modi foi ministro-chefe de Gujarat, a economia cresceu em média 10% ao ano, acima da média nacional, diz a Economist

Com estes resultados, o Gujarat, estado de mais de 60 milhões de habitantes, conseguiu assegurar uma rede eléctrica quase total – algo pouco comum na Índia – e conseguiu atrair o interesse de grandes empresas, como os construtores automóveis Tata Motors e Ford, que ali abriram fábricas nos últimos anos.

As promessas de aplicar o modelo de Gujarat a todo o país foram bem acolhidas pelos indianos, fartos de ouvir o lugar-comum de que a Índia é uma das nações mais promissoras na economia global. As décadas de proteccionismo dos governos do Congresso trouxeram a estagnação e transformaram a Índia num dos países onde é mais difícil fazer negócios – ainda hoje ocupa o 130.º lugar, em 190, no ranking do Banco Mundial, um lugar acima do Camboja.

A revista Forbes conta a história do fundador de uma empresa de software na Índia nos anos 1980 que demorou um ano a conseguir um telefone. Ao fim de três anos conseguiu autorização para importar um computador.

Muito mudou desde então, mas Modi propunha alterações ainda mais profundas, sobretudo na redução da burocracia e na luta contra a corrupção (outro factor para a sua vitória). No ano passado, o crescimento da economia indiana foi de 7,6%, mas as previsões apontam para uma descida no ano fiscal que termina no final de Março. Mas reformar um país da dimensão e complexidade da Índia pode revelar-se uma tarefa para gerações. Cada estado tem leis e regulamentos específicos, que não dependem do Governo federal. No ano passado, o BJP venceu apenas em apenas um dos cinco estados que foram a eleições, o que poderá vir a dificultar a introdução da agenda reformista de Modi.

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