Tempos pouco saudáveis

Lá fora, três personagens ditarão o curso do mundo. Por cá, a “gerigonça”, qual “Passarola” de Bartolomeu de Gusmão, irá continuar a voar.

2017 (e os anos seguintes...) vão ser marcados de forma determinante pelas movimentações de três personagens: Donald Trump, Vladimir Putin e Xi Jinping.

O inopinado contacto telefónico estabelecido por Trump com Taiwan, indicando a possibilidade de a futura Administração americana vir a pôr em causa a aceitação do princípio de “Uma China”, depois de uma campanha eleitoral extremamente agressiva em relação às políticas comerciais chinesas, conjugado com os exuberantes gestos de aproximação a Putin, indicam que Trump se prepara para deixar de considerar o império russo como o inimigo principal e que pretende substituí-lo pelo emergente Império do Meio. Uma evidente alteração substancial dos eixos em que se baseou a diplomacia do império norte-americano, nas últimas décadas, com consequências imprevisíveis.

A China não vai aceitar facilmente humilhações da parte dos EUA, nem o bloqueio do crescimento da sua importância no palco mundial, apesar de, como é sabido, se preocupar, em termos de política internacional, em termos de longo prazo e não de eventos pontuais. Mas Trump, para além da questão de Taiwan, parece também querer pôr em causa o próprio crescimento económico da China e, nesse aspecto, a elite dirigente chinesa parece não poder ceder muito sob pena de poder perder o controlo das massas. Neste perigoso medir de forças entre EUA e China, a política de alianças que a Rússia vier a estabelecer será de enorme importância. E Putin não é um primário adepto de tweets, antes possuindo um sofisticado pensamento.

Pelo seu lado, em 2017, as Nações Unidas correm o risco de ver estrangulado o essencial financiamento norte-americano, tornando-se ainda menos relevantes tal como, lamentavelmente, irá acontecer à defesa dos direitos humanos em termos mundiais, por muito que tudo isto custe a Guterres. Não parecem, pois, avizinhar-se tempos muito saudáveis.

E 2017, cá pelo burgo, como vai ser? A “gerigonça”, qual “Passarola” de Bartolomeu de Gusmão, irá continuar a voar, para gáudio de muitos e a incredulidade de outros. A oposição, pelo seu lado, vai continuar a pregar no deserto, enquanto não perceber que perdeu as eleições, tal como as perdeu Hillary Clinton, apesar de ter mais votos.

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