Gripe: “A recomendação é que as pessoas se vacinem. De que é que estão à espera?”

Às pessoas que recordam o alarme excessivo na pandemia de gripe A, em 2009, Graça Freitas responde que deviam festejar o facto de o vírus ter sido "bastante pouco agressivo". Desse tempo, ainda temos antivírico armazenado em contentores.

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Graça Freitas: "Os últimos dados que vi das farmácias, já antigos, indicavam que tinham vendido mais de meio milhão de doses"

A epidemia de gripe sazonal já começou. Prevê-se um Inverno complicado?
Já estamos em actividade epidémica e tudo aponta para que o vírus dominante vá ser o H3N2, que é conhecido por dar épocas virais de grande intensidade, dado que afecta sobretudo não só idosos, mas também grávidas e outros grupos de risco. Uma colega dizia-me ontem que tinha ido à urgência e que ficou surpreendida por ver muitas grávidas…. Elas são um grupo de risco.

Há vacinas em número suficiente?
Ainda há vacinas nos centros de saúde. Este ano comprámos um bocadinho mais e as farmácias também têm mais.

Compraram 1,2 milhões de doses. Chega?
Sim, e as farmácias compraram 800 mil doses. É um grande número. Portanto, faço um apelo, digo a todas as pessoas idosas, ou com doença crónica, ou que estão grávidas, que ainda vale a pena vacinarem-se, o vírus vai circular entre oito a 12 semanas.

Quantas pessoas é que já se vacinaram contra a gripe sazonal?
As nossas estimativas rondam um milhão e 50 mil e um milhão e 100 mil. Os últimos dados que vi das farmácias, já antigos, indicavam que tinham vendido mais de meio milhão de doses.

Há muitas pessoas que são renitentes à vacinação. Lembram-se da pandemia de gripe A, em 2009, que provocou um alarme excessivo.
Mas ainda bem. Uma pessoa prepara-se para o pior e depois acontece o melhor, devíamos era ter festejado, porque [se isso não tivesse acontecido], teríamos familiares e amigos mortos.

O problema é que comprámos dois milhões de doses de vacinas e uma parte teve que ir para o lixo.
A maior parte não foi para o lixo, foi negociada com a empresa e foi entregue depois nos anos seguintes por troca com as vacinas sazonais.

O que aconteceu ao antivírico, o oseltamivir, que foi comprado também em grandes quantidades e não foi usado?
Continua armazenado e a ser regularmente analisado pelo Infarmed — Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde.

Não está fora do prazo?
Está fora do prazo sim, mas não quer dizer que tenha perdido a sua actividade. Está conservado em vácuo, em condições de temperatura e de pressão adequadas, e armazenado em pó, em contentores.

Isso significa que pode ser utilizado?
Aquele antivírico nunca será utilizado na gripe normal. Só numa emergência de saúde pública e com provas inequívocas laboratoriais de controlo de qualidade de que a substância está activa.

Voltando à gripe sazonal, os especialistas dizem que, depois de um Inverno brando, como foi o do ano passado, segue-se um Inverno pior em termos de mortalidade, o que pode acontecer este ano. Por que é que é assim?
Porque se acumulam pessoas susceptíveis, há muitos idosos mais frágeis, temos uma esperança de vida à partida limitada e é uma questão de probabilidade. A uma época muito boa, segue-se uma época menos boa.

É o que vai acontecer este Inverno?
Não necessariamente. Pode haver outro Inverno brando. Mas a recomendação, mais uma vez, é que as pessoas se vacinem. De que é que estão à espera?

O director-geral da Saúde, Francisco George, está de saída porque faz 70 anos em 2017. É subdirectora-geral desde 2005. Vai suceder-lhe?
Não, isto não é uma dinastia, não é uma monarquia. Estes são lugares de concurso.

Vai concorrer?
Não comento. É precoce perguntar isso.

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