São públicas, inseridas em meios pobres, mas estão no topo do “ranking do sucesso”

Há escolas onde a maioria dos alunos não chumba e tem positiva nos exames. Novo indicador do Ministério da Educação permite saber quais são e também que ainda são muito poucas.

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Entre as 50 escolas que mais se destacam pelo sucesso dos seus alunos, 22 são públicas Sérgio Azenha

O sucesso escolar é feito de mais coisas do que ter notas altas, uma variável que aliás nem sequer é tida em conta pelo Ministério da Educação (ME) numa nova forma de avaliar as escolas, onde as que se distinguem pela positiva são aquelas que conseguem que os alunos façam o seu percurso sem chumbos e passem nos exames nacionais. O ME chama-lhes “percursos directos de sucesso”, num novo indicador que, no ano passado, calculou para o ensino básico e que em 2016 alargou para o secundário.

E a realidade muda quando se olha por este prisma. Em vez de uma tabela com todos os lugares cimeiros preenchidos por colégios privados, surge uma outra onde se constata o seguinte: entre as 50 escolas que, no secundário, mais se destacam por promoverem o sucesso dos seus alunos, 22 são públicas e, destas, metade está inserida no contexto socioeconómico mais desfavorecido dos três que o PÚBLICO definiu. 

Uma delas, a secundária de Vila Cova, localizada numa zona rural de Barcelos, ocupa mesmo o primeiro lugar nesta forma “alternativa” de ordenar as escolas que não passa pelas médias obtidas nos exames. Com base neste novo indicador, o PÚBLICO já apresentou em 2015 um ranking alternativo para o ensino básico. Agora é possível fazer o mesmo com o ensino secundário. 

Manuel Gomes é director de uma das escolas que, neste nível de ensino, está nos primeiros lugares do ranking dos percursos directos de sucesso. “Não há milagres”, começa por dizer quando questionado sobre as razões deste feito, para acrescentar logo de seguida: “A escola tem de ser sedutora para os alunos e estes têm de ter um espírito de pertença à escola. Tudo resulta de um trabalho diário realizado por pessoal docente e não docente, que leva também a que não exista aqui abandono escolar precoce.” 

O “aqui” refere-se à Escola Básica e Secundária de Arga e Lima, localizada numa zona rural do concelho de Viana de Castelo, que se insere também num contexto socioeconómico carenciado. Mais de metade dos alunos do 12.º ano desta escola recebem apoios do Estado por serem oriundos de agregados familiares cujo rendimento é igual ou inferior ao salário mínimo nacional. E já estão muito além no que respeita à escolaridade obtida pelos pais, que, em média, apenas estiveram na escola sete anos. 

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Foram estes alunos do 11.º e 12.º que levaram a que a escola, para além de se sair bem neste ranking dos percursos directos de sucesso, também conseguisse subir, entre 2015 e 2016, quase 200 lugares no ranking feito apenas com base nas médias dos exames finais, passando de 413.º para 243.º. Mais uma vez, o seu director parece não ter dúvidas sobre as razões destes feitos: “Primeiro é preciso conquistar os alunos para a cidadania, para a responsabilidade. O resto vem por acréscimo.”

Os 600 alunos que frequentam a secundária de Arga e Lima não têm transporte para regressar a casa após o almoço e portanto ficam na escola entre as 08h30 e as 17 horas. Para o director, esta situação acaba por trazer “muitas vantagens”. “O aluno pode dedicar-se ao trabalho autónomo, com consultas na biblioteca, e frequentar os apoios dados pelos professores. Fazemos um esforço para que tenha aqui tudo o que precisa, incluindo os espaços de lazer.”

Em Arganil, os alunos empenham-se

Mas olhemos com mais pormenor para os chamados “percursos directos de sucesso”. Com este novo indicador, é possível conhecer a percentagem de alunos em cada escola que, no 3.º ciclo, não chumbou nem no 7.º ano, nem no 8.º ano e que, em simultâneo, tiveram positiva nos exames do 9.º ano realizados no ano lectivo passado (2015/2016). No secundário, avalia-se a percentagem de alunos que, cumulativamente, não reprovou no 10.º e no 11.º ano e que teve positiva nos exames do 12.º ano feitos em 2015/2016. 

As escolas são depois comparadas com outras com alunos semelhantes: as que mais se distanciam pela positiva em relação ao que era esperado delas são as que lideram este “ranking alternativo”. No ensino secundário, mais de metade (54,3%) das 543 escolas com dados neste indicador consegue passar com positiva nesta comparação entre escolas, embora na maioria, quando olhadas individualmente, sejam mais os alunos que chumbam do que aqueles que passam.  

É uma realidade a que voltaremos um pouco mais adiante. Por agora, damos de novo a palavra às escolas pela voz de Anabela Soares, directora da Escola Secundária de Arganil, que está em 8.º lugar no ranking dos percursos de sucesso e é uma das sete que nos últimos cinco anos conseguiram que os seus alunos progredissem mais do que os outros a Português e Matemática, em simultâneo. Primeira razão para tal: “Existe um grande empenho dos nossos alunos, que têm objectivos bem definidos, ancorados no Serviço de Orientação Escolar e Profissional que tem sido feito por uma psicóloga contratada a meio tempo.”

Anabela Soares destaca também “o brio e profissionalismo dos professores, que estão sempre disponíveis para apoiar os alunos (quer presencialmente quer por email) e as estratégias diferenciadas que têm sido adoptadas, de que são exemplo apoios mais individualizados, desdobramento de turmas, aulas para preparação de exames”. “Reforçamos, ainda, o clima de pertença e de empatia entre os alunos e a maior parte dos professores, o que propicia o estudo e o trabalho”, acrescenta. A secundária de Arganil é também uma escola situada num contexto carenciado. Ali, cerca de 30% dos alunos do 12.º ano têm direito à Acção Social Escolar.

Neste “ranking alternativo”, os colégios estão em maioria no top 50 e são no essencial os mesmos que ocupam também os lugares cimeiros do ranking tradicional, feito com base na média dos exames. É o caso do Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, que está à frente no ranking dos exames e fica em segundo lugar no dos percursos de sucesso, facto que a sua directora, Teresa Nogueira, atribui essencialmente à “continuidade” dos alunos na escola: a maioria está lá desde o pré-escolar até ao 12.º ano. 

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