Duterte assume ter assassinado suspeitos

Presidente filipino recordou que quando era autarca em Davao andava pelas ruas “à procura de uma oportunidade para matar”. Guerra contra as drogas já fez quase seis mil mortos.

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Reuters/SAMRANG PRING

O Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, admitiu ter matado pessoalmente suspeitos de tráfico de droga enquanto era presidente da câmara de Davao. O objectivo era dar o exemplo aos polícias que o acompanhavam.

“Em Davao, costumava fazê-lo pessoalmente”, disse o Presidente filipino, referindo-se à operação contra o tráfico de droga que lançou desde que chegou ao poder, há seis meses. “Era apenas para mostrar [aos polícias] que, se eu era capaz de o fazer, porque não podem vocês?”, acrescentou, durante um encontro com empresários em Manila no início desta semana.

“Ando por Davao numa grande motorizada e patrulho as ruas à procura de problemas. Andava mesmo à procura de uma oportunidade para matar”, acrescentou.

Duterte foi eleito com a promessa de ter mão pesada em relação ao tráfico de droga no país, à semelhança do que fez em Davao, uma cidade com 1,5 milhões de habitantes no Sul do país. Durante mais de duas décadas, as forças de segurança, auxiliadas por “esquadrões da morte” compostos por milicianos, lançaram uma guerra contra os traficantes e toxicodependentes da cidade que deixou milhares de mortos.

Em várias ocasiões, Duterte disse planear estender a sua experiência em Davao ao resto do país e, durante a campanha, chegou a dizer que pretendia matar cem mil "traficantes e viciados". Desde que tomou posse, no final de Junho, pelo menos 5900 pessoas foram mortas na guerra contra o tráfico lançada por si, de acordo com o Washington Post. Mais de 3800 foram executadas por grupos de milícias armadas, que o próprio Presidente chegou a encorajar. Nas ruas de Manila e de outras cidades do país é frequente encontrar corpos de pessoas embrulhados em fita adesiva com cartazes em que se lê “Sou um traficante”.

Duterte garantiu que as acusações de que a sua resposta ao tráfico de droga é desproporcional não vão fazê-lo recuar. “Se eu tiver medo e parar por causa dos direitos humanos... Desculpem, mas não vou fazer isso”, garantiu. “Querem prender-me? Afastar-me? Façam-no. Assassinar-me? Melhor, tenho esta enxaqueca todos os dias.”

O ministro da Justiça, Vitalino Aguirre II, desvalorizou as declarações de Duterte, que diz serem um “exagero”, e tentou justificar os potenciais homicídios que o Presidente admite ter cometido. “Pode ter sido feito com uma causa justificável e em circunstâncias justificadas. (...) Ele deve ter sido forçado a matar”, disse Aguirre, citado pelo jornal Inquirer.

Em Setembro, durante uma comissão de inquérito, um ex-membro de um esquadrão de Davao disse que Duterte chegou a assassinar um suspeito a tiros de metralhadora. O gabinete presidencial negou as acusações de que Duterte tenha participado em operações do género e o testemunho foi desvalorizado.

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