Republicanos influentes querem que seja investigada mão russa nas eleições

Enquanto Donald Trump rejeita as fortes suspeitas da CIA de que Moscovo tentou prejudicar a candidatura de Clinton, alguns políticos do seu partido pedem inquérito especial no Congresso.

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"Estas são as mesmas pessoas que disseram que Saddam Hussein tinha armas de destruição maciça", disse Trump sobre a CIA Shannon Stapleton/REUTERS

A Rússia agiu de forma encoberta para prejudicar os resultados de Hillary Clinton nas eleições presidenciais dos Estados Unidos e favorecer Donald Trump, dizem a CIA e outras agências de informação norte-americanas. No Congresso, há movimentações para lançar uma comissão de inquérito como a que se seguiu aos atentados do 11 de Setembro.

Mas o Presidente eleito recusa a avaliação feita pelos serviços secretos. “Estas são as mesmas pessoas que disseram que Saddam Hussein tinha armas de destruição maciça. As eleições já acabaram há muito tempo, com uma das maiores vitórias de sempre no Colégio Eleitoral. É tempo de avançarmos e de tornarmos a ‘América Grande Outra Vez’”, afirmou Trump, numa curta declaração, em tom de desafio à actual Administração.

"Ver o Presidente eleito dos EUA rejeitar a narrativa baseada em factos que a comunidade de informação coligiu porque entra em colisão com as suas ideias a priori - uau", comentou ao New York Times Michael V. Hayden, director da Agência Nacional de Informação e da CIA sob os mandatos de George W. Bush.

Os espiões chegaram a esta conclusão porque, apesar de os hackers russos terem entrado também nos servidores do Partido Republicano, guardaram a informação e apenas divulgaram os dados que encontraram nos do Partido Democrata e de John Podesta, o director de campanha de Clintondizem o Washington Post e outros jornais. A divulgação foi feita através da Wikileaks e de outras plataformas online. No entanto, o Partido Republicano não assume que foi atacado - reconhece apenas que hackers entraram nas contas de alguns políticos.

As notícias surgiram no The New York Times e no The Washington Post horas depois de o Presidente Barack Obama ter ordenado às agências de informação norte-americanas que façam uma avaliação dos ataques informáticos e da intervenção estrangeira nas eleições presidenciais, suspeitas que já existem desde a Primavera. O actual Presidente quer o relatório completo pronto antes de deixar a Casa Branca, a 20 de Janeiro.

Existem investigações em curso sobre estes ciberataques, e a Casa Branca já acusou a Rússia de estar por trás deles. A CIA e a Agência Nacional de Segurança identificaram várias pessoas ligadas à Rússia que terão sido responsáveis pelo roubo de emails do Comité Nacional do Partido Democrático (órgão que organiza a campanha eleitoral) e de membros importantes da campanha de Clinton. Se a ex-secretária de Estado de Obama tivesse conquistado a presidência, estes emails seriam usados para pôr em causa a sua legitimidade, diz o New York Times.

A CIA, em concreto, apresentou um relatório numa reunião à porta fechada com vários senadores no Capitólio, durante a qual foi dito que é “bastante claro” que o objectivo de Moscovo foi ajudar Trump a tornar-se um candidato de “consenso”, diz o Washington Post.

Estas suspeitas ameaçam a legitimidade da vitória de Donald Trump, embora a Administração Obama esteja a reagir com cautela, procurando criar um consenso com os republicanos, tentando evitar que o Presidente Obama seja acusado de estar a usar os serviços secretos para fins políticos.

Até agora, a Administração Obama tem reagido com precaução às suspeitas, procurando criar um consenso com os republicanos - até agora, sem sucesso.

Putin "deve pagar"

No entanto. para alguns republicanos, que continuam a não conseguir deglutir bem a eleição de Donald Trump, esta história está a assumir proporções impossíveis de ignorar. Os senadores Lindsey Graham e John McCain anunciaram que estão a trabalhar para lançar uma comissão de inquérito sobre o caso. O próximo líder da minoria democrática no Senado, Chuck Schumer, anunciou também a intenção de pedir uma investigação levada a cabo por membros dois partidos.

“Vou atrás da Rússia, de todas as maneiras que for possível ir trás da Rússia”, prometeu o republicano Graham, citado pelo Washington Post. “São uma das principais forças desestabilizadoras no palco mundial. Penso que interferiram nas nossas eleições, e quero que o Presidente Vladimir Putin pague por isso pessoalmente”, declarou.

Estas movimentações vão também ao encontro do que os democratas na Câmara dos Representantes têm pedido. Querem algo no modelo da comissão que investigou os atentados do 11 de Setembro de 2001.

Pode isto ser o início de uma guerra aberta de Donald Trump com o seu próprio partido ainda antes de tomar posse? O Congresso volta ao trabalho a 3 de Janeiro, a semanas da transferência de poderes de Obama para Trump, a partir de 20 de Janeiro.

Segundo o New York Times, até um dos mais firmes apoiantes de Trump, o congressista luso-descente Devin Nunes, membro da equipa de transição, não expressou dúvidas sobre a culpa da Rússia. Mostrou-se é insatisfeito com a incapacidade dos serviços secretos em "antecipar as acções hostis" de Putin e a falta de acções punitivas da Administração Obama.

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