Rússia anuncia reunião com EUA para discutir saída da rebelião de Alepo

Grupos armados garantem que não pretendem deixar a cidade, mas já só controlam 30% do território que detinham antes do início da ofensiva. Resolução da ONU para trégua imediata foi chumbada.

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Imagens dos combates a partir do bairro rebelde de Al-Shar, que o Exército sírio tinha já cercado George Ourfalian/AFP

A Rússia anunciou que vai negociar com os Estados Unidos a retirada dos rebeldes sírios do Leste de Alepo – uma retirada que os combatentes asseguram que não acontecerá, apesar de terem perdido na última semana mais de dois terços do território que controlavam há quatro anos na cidade.

“Todos os grupos armados que recusarem deixar o Leste de Alepo serão considerados terroristas”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, adiantando que terça-feira à noite, ou na manhã do seguinte, vai encontrar-se em Genebra com o homólogo norte-americano, John Kerry. O objectivo, explicou, é chegar “sem demoras” a um “acordo sobre o itinerário” para a saída dos combatentes, tal como aconteceu em 2012 em Homs, quando as forças da oposição negociaram uma saída daquela que era considerada a capital da rebelião contra o Presidente sírio, Bashar al-Assad, após dois anos de cerco. 

Assim que houver acordo sobre o calendário e os corredores para a retirada, “vai entrar em vigor uma trégua” na cidade, acrescentou Lavrov, horas antes de o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunir para votar uma resolução que propõe igualmente um cessar-fogo – de sete dias, a começar de imediato –, a fim de permitir o envio de ajuda humanitária para os milhares de civis cercados pelos combates. Uma ideia que Lavrov considerou “contraproducente” e com o único objectivo de permitir que os rebeldes se reagrupem, no exacto momento em que estão a ceder em todas as frentes. A resolução acabou por ser chumbada pela Rússia, China e Venezuela.

Washington não comentou o anúncio da Rússia, principal aliado da Síria, mas na sexta-feira Kerry anunciou que iria a Genebra tentar negociar um fim para os sangrentos confrontos em Alepo. Antecipando-se à Administração Obama, que apoia alguns dos grupos que combatem na cidade, responsáveis de vários movimentos rebeldes excluíram qualquer hipótese de rendição. “Os revolucionários não deixarão o Leste de Alepo. Vão combater a ocupação russa e iraniana até à última gota de sangue”, disse à AFP Abdel al-Hamui, dirigente do grupo islamista Jaish al-Islam. À Reuters o porta-voz da União Fastaqim revelou que o grupo comunicou a Washington que não sairia da cidade. “Dissemos-lhes que não podemos deixar a nossa cidade e as nossas casas para as milícias de mercenários mobilizados pelo regime. Eles ouviram e não comentaram.”

A rendição de Alepo seria uma enorme humilhação para os rebeldes, forçados a sair de uma cidade que mais do que simbólica é estratégica – depois dela restar-lhes-á a província de Idlib, onde se têm concentrado os que foram vencidos noutras frentes, e bolsas de território na região de Deraa (Sul) e nos subúrbios de Damasco. Mas, a coberto do anonimato, um responsável da oposição admitiu à Reuters que, muitos em breve, os combatentes não terão alternativa, a bem dos civis (entre cem a 200 mil) que vivem nos bairros que ainda controlam. “As pessoas estão a pagar um preço muito alto, sem que nenhum país ou organização intervenha [em seu auxílio]”, disse o responsável.

Uma escolha que pode não tardar – segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, à oposição não resta mais do que 30% do território que detinha em Alepo. Nesta segunda-feira, a rebelião dava já como perdido o bairro de Al-Shaar, cercado pelas forças governamentais, e estava a combater ferozmente nas imediações da Cidade Velha, dividida também desde 2012 entre o Governo e a oposição. Do outro lado da cidade, um hospital de campanha gerido pela Rússia foi atingido por morteiros disparados pelos rebeldes, matando duas médicas que ali trabalhavam e ferindo gravemente um terceiro clínico. 

Notícia actualizada às 20h09, com informação de que resolução para trégua de sete dias foi chumbada pelo Conselho de Segurança da ONU.

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